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comandante do Aeródromo de Trânsito, Rui Campos, junto ao jipe Willis
recuperado
| DIANA QUINTELA/ GLOBAL IMAGENS
Responsável pela recuperação do jipe
retirado da sucata é um militar que representa a última geração de uma família
de sargentos.
Eduardo Bexiga é sargento-mor da GNR,
donde saiu em 2006 para andar sempre à civil. Onde anos depois, contudo, voltou
a vestir a farda para assinalar a sua última obra: recuperar e oferecer à Força
Aérea um jipe Willis retirado literalmente debaixo de muito ferro velho.
A cerimónia realizou-se a 8 de junho, no
Aeródromo de Trânsito nº1 (AT1). Eduardo Bexiga, militar de infantaria e
mecânico nas horas livres, fardou-se a rigor também "para simbolizar a
colaboração da GNR com a Força Aérea e homenagear a sua última unidade": o
Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) da Guarda, que ajudou a criar
e da qual foi o primeiro sargento-mor.
O projeto de recuperar o inutilizado
jipe CJ6 de seis cilindros a gasolina - popularmente conhecido como Willis e
que agora tem um motor de quatro cilindros a gasóleo - surgiu em 2015, ano em
que o coronel Rui Campos assumiu o comando do AT1, a unidade militar adjacente
ao aeroporto de Lisboa. Decidido a renovar aquelas instalações, o oficial
descobrira a enferrujada viatura debaixo de muita sucata numa área oficinal.
"O jipe nem sequer estava à carga e
podia ter sido levado" por quem quer que fosse que ninguém notaria, diz
Rui Campos. Motivados os militares e civis a limparem o local, colocava-se o
problema de como financiar o projeto. "Não havia dinheiro" mas o
desafio de o concretizar era suficientemente forte para procurar soluções,
lembra Rui Campos ao DN. A solução acabou por surgir no início de 2016, ao ser
apresentado a Eduardo Bexiga, ex-militar da Força Aérea e especialista em jipes
Willis.
Eduardo Bexiga - com o irmão,
sargento-mor paraquedista - representa a última geração de uma família de
sargentos. O avô foi sargento do Exército e integrou o Corpo Expedicionário
Português enviado para França na I Grande Guerra. O pai estava em Macau durante
a II Guerra Mundial como sargento do Exército, donde transitou para a Força
Aérea no início dos anos 1950, quando nasceu o ramo aeronáutico em Portugal.
Com o bichinho e a aprendizagem da
mecânica automóvel herdados do pai, sargento-ajudante mecânico de material de
terrestre, Eduardo Bexiga iniciou a vida militar em 1972 no mesmo ramo, mas na
Polícia Aérea. Em 1980 entrou para a GNR, onde prosseguiu a carreira no
Regimento de Infantaria - atual Unidade de Intervenção da Guarda - até a
concluir no GIPS.
Já com vários Willis recuperados no
currículo, Eduardo Bexiga aceitou o desafio apesar da "falta de peças
mecânicas e da impossibilidade de [as] comprar por terem um custo
incomportável". Com a ajuda de dois sargentos, um da Força Aérea e outro
da GNR, mais uns militares e civis do AT1, o sargento-mor deitou mãos à obra em
fevereiro de 2016.
"Optei por incorporar um motor e
uma caixa de velocidades de um Nissan Patrol" da Força Aérea, que estava
para ser abatido, "e por adaptar a carroçaria do jipe [transformando-o
numa viatura para cerimónias de parada] mas mantendo o seu visual estético
inalterado", conta o militar já na reforma. Isso significou alargar a
abertura lateral direita do Willis, que os puristas classificam como um CJ6 mas
que passou assim a ser igual à versão M170.
Foi-lhe também adicionada uma haste para
colocar a flâmula da alta entidade - o Presidente da República ou o comandante
da Força Aérea, por exemplo - que presida à cerimónia militar, bem como um
pirilampo azul para o jipe servir como viatura Follow Me nas receções a chefes
de Estado ou de governo que visitem Portugal. Foi aliás nesta função que este
Willis já foi usado, aquando da chegada ao aeroporto do presidente do parlamento
chinês e do primeiro-ministro da Índia, refere o comandante do AT1.
E quanto custou? Rui Campos sorri de
satisfação, também por saber que vai surpreender: "Menos de 600
euros." Eduardo Bexiga, que também sorri mas de orgulho, acrescenta que a
única coisa nova do jipe é o vidro - e umas borrachas, acrescenta o coronel.
O resto foi tudo material recuperado,
desde o radiador aos pneus (também do Patrol), passando pela direção assistida
aos travões de disco à frente e atrás - para garantir a sua "utilização
consentânea com as normas de segurança", explica Eduardo Bexiga - ou aos
farolins.
Agora em fase de registo e obtenção de
documentos como viatura militar especial, o jipe foi oferecido a 8 de junho ao
chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general Manuel Rolo. Por concretizar,
devido ao atraso dos trabalhos, ficou o desejo de Rui Campos em o ver desfilar
nas cerimónias do 10 de junho, no Porto e com Marcelo Rebelo de Sousa a passar
revista às tropas.
Nas laterais do capô já está inscrita a
sua classificação militar e segundo as regras NATO: 13 números, correspondendo
os últimos seis ao dia 1 do mês e ano em que renasceu. Mas ainda falta pintar a
águia da Força Aérea no capô....
Origem do Voo:
DN
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