terça-feira, 27 de setembro de 2016

Voo 3529 QUEM CONHECEU?


Pedro Relvas Pena
Leitor do Blog



Pedro Relvas Pena
Leitor do Blog

Bom Dia Caro Senhor.
Por solicitação dos meus filhos, venho solicitar referências ou até imagens do Avô que não conheceram, o Major Piloto Aviador Pedro José Relvas Pena, natural de Vila Real, que participou em vários cenários da Guerra Colonial, mas dos quais tenho poucas referências, nomeadamente imagens. Lembro-me particularmente da Beira, Moçambique, na BA10. Aliás fiz lá a minha escola primária na escola do Macuti.
Não posso precisar as datas Terá  iniciado a carreira no final dos anos 40, princípios dos anos 50. Sei que fez o curso no Canadá integrado na NATOTerá andado por Tancos, Alverca, na BA4 (pelo menos entre 1957 e 1962/63, Angola , Moçambique (65 a 68/69); terá passado à reserva no início dos anos 70, e fez uma comissão deserviço já depois do 25 de Abril de 74 na Comissão de extinção da PIDE/DGS. Teve uma acidente grave ao largo de Las Palmas que resultou nalgumas mortes e que foi notícia nas promeiras dos jornais em 1962/63, que o deixou um homem diferente.
Mais uma vez obrigado pela atenção e cuidado
Pedro Relvas Pena


sábado, 24 de setembro de 2016

Voo 3528 FOTO DA FAMÍLIA ESPECIAL 1ª/69 1ªESQª 4ªSEC.





António Fiche
Esp.MRÁDIO
Montijo


Ao Comandante do blog dos Especialistas da BA12.
Caro amigo Victor Barata, respondendo ao teu pedido para que este blog não “morra”,começo por te mandar esta foto que tem muito de valor para todos nós que começamos a vida militar e para muitos carreira na Força Aérea Portuguesa.
Recebe por agora um forte abraço “Especialista”.

 António Fiche (M. Rádio)

“ Fomos Especialistas, somos Especialistas, seremos sempre Especialistas”

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Voo 3527 JULHO DE 1968 - FIAT ABATIDO JUNTO A GANDEMBEL


PEDAÇOS DAS NOSSAS VIDAS [1]



Cumpri muitas missões durante a minha carreira na Força Aérea Portuguesa. A comissão na Guiné, porém, sobrepôs-se a todas as outras e marcou-me indelevelmente para o resto da vida. 

A mim e certamente a todos os que, de algum modo, partilharam a mesma experiência. É dela ou de acontecimentos com ela relacionados, que vos irei dando conta…


José F.F. Nico

“MARTE [2], SAIA A FORÇA AÉREA, O PIRATA [3] EJECTOU-SE EM GANDEMBEL!”


A frase em título reproduz uma angustiante emissão rádio efectuada na frequência 49,0 Mhz FM, ao fim da manhã do dia 28 de Julho de 1968. Nesse preciso momento encontrava-me a efectuar o “sector” [4] de Nova Lamego, com um DO-27, e confesso que fiquei gelado. O comandante do Grupo Operacional 1201 (GO 1201), na altura o combatente mais graduado da Força Aérea na Guiné, tinha sido forçado a abandonar o avião por razões que não foram explicadas no momento, numa área que todos sabíamos infestada de guerrilheiros. Por esse motivo assumi instintivamente a sobrevivência, em consequência da ejecção, como um risco menor naquela situação. Foi a possibilidade de o tenente-coronel Costa Gomes ser capturado pelo inimigo que mais me assustou. Respondi imediatamente ao Tubarão [5] informando-o que o Sampunhe na Mouco [6] ia interromper a missão e rumar a Gandembel para ajudar a tentar localizar o piloto no solo. 
Todos os aviões em voo mantinham escuta permanente em 49,0 Mhz, que era o canal para apoio aéreo às forças de superfície, e foram vários os pilotos que também alteraram a missão para se dirigirem a Gandembel. Soube-se depois que o G-91 5411, pilotado pelo comandante do GO 1201, tinha sido atingido por fogo antiaéreo e incendiara-se. O número dois da formação, alarmado com o enorme rastro de fogo deixado pelo avião, incitara o chefe a ejectar-se imediatamente o que ele fez alguns segundos depois. Logo a seguir, enquanto observava o pára-quedas a descer para a mata, o capitão Vasquez comunicou a situação ao Centro Conjunto de Apoio Aéreo (CCAA) e com essa transmissão rádio alertou o dispositivo aéreo para aquela emergência. As palavras que então proferiu ainda hoje ressoam na memória de todos os que as ouviram naquele já longínquo dia e são elas que dão o título a mais este “PEDAÇOS DAS NOSSAS VIDAS”.    
LIMITAÇÕES ORGANIZACIONAIS DA FORÇA AÉREA NA GUINÉ

A minha vida mudou radicalmente quando, no dia 28 de Setembro de 1967, a porta do HC-54 Skymaster 7504, que me transportou até Bissau, se abriu e uma baforada de ar quente e húmido invadiu a cabine dos passageiros. Tinha feito a viagem desde Lisboa com o meu camarada de curso, o tenente Balacó Moreira, e foi aquela bofetada de calor húmido com odor a ferrugem que nos anunciou o peculiar ambiente em que íamos viver e combater a partir daquele dia.    
Tínhamos completado o treino operacional em F-86F, na Esquadra 51 de Monte Real mas, para a guerra que se desenrolava na Guiné, não houve qualquer preparação específica. Era um nível de formação que ultrapassava as capacidades de uma pequena unidade de voo como era a Esquadra 51. Penso mesmo que nunca foram inseridos, no treino que se seguia ao curso de pilotagem de aviões de caça (em T-33), os ensinamentos resultantes da recolha de informações e da análise do que se estava a passar em África, nem a disseminação de eventuais lições aprendidas, nem sequer das práticas da cooperação aeroterrestre. A Força Aérea, com a expansão forçada pela defesa dos territórios ultramarinos, ficou de tal modo estirada que estas questões que exigiam um estado - maior central, com capacidade para estudar o nível operacional da guerra, nunca foram convenientemente resolvidas.
Desembarquei assim em Bissau necessitando de tempo e experiência para perceber o que faziam os que já lá estavam e o porquê de como o faziam. Como a actividade era intensa as oportunidades para concretizar a necessária qualificação para operar no teatro de operações da Guiné surgiram em catadupa, umas atrás das outras. Apenas me foi explicada uma prioridade: como o DO-27 era pau para toda a obra quase todos os pilotos, independentemente to tipo de aeronave a que se destinavam, que no meu caso era o G-91, tinham que ser também qualificados naquela aeronave. E foi assim que, logo no dia seguinte à chegada, comecei a receber instrução no DO-27 e passados três dias fui considerado apto para operações. Só depois disso, no dia 3 de Outubro de 1967, efectuei então o primeiro voo em G-91 e poucos dias depois estreei-me contra o dispositivo antiaéreo do PAIGC no Quitafine [7].
Outra questão muito importante, que na altura me passou despercebida, foi que o nível operacional da guerra pura e simplesmente não existia na Força Aérea ou, para ser mais preciso, existia apenas uma pessoa que tinha estatuto para analisar o que se passava, pensar o que se poderia fazer com os recursos disponíveis e planear: o tenente-coronel Costa Gomes, comandante do GO 1201, que nessa função era apoiado pelo comandante da Esq 121, o capitão Vasquez. Todos os outros elementos, na grande maioria jovens tenentes do quadro permanente e alferes e furriéis milicianos, eram executantes puros que dominavam apenas o nível táctico. Não havia um estado-maior operacional e isso influenciou sempre, sem que nos apercebessemos, a qualidade da nossa operação mau grado o voluntarismo e agressividade dos pilotos, como se perceberá do episódio que me proponho relatar.
De facto, agora à distância de 50 anos, analisando a nossa organização e a forma de emprego do poder aéreo naquele tempo, é óbvio que as responsabilidades de nível operacional residiam na pessoa do Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné [8] (COMZAVERDEGUINÉ). Numa condição de guerra é, na actualidade, indiscutível que deviam ter sido responsabilidades apoiadas por um estado-maior, o que nunca aconteceu. Poder-se-ia agora argumentar que dada a pequena dimensão da componente aérea as responsabilidades de nível operacional caberiam nas competências do Comando-Chefe e, de facto, isso podia ter sido feito não fosse o facto de o QG conjunto ser um comando essencialmente terrestre. Da Força Aérea apenas contava com um oficial de ligação com o posto de capitão. Mas mais ainda, nos casos em que o comandante da zona aérea não tivera experiência anterior nas unidades de caça, essas responsabilidades eram informalmente assumidas pelo comandante do grupo operacional como se fosse uma coisa natural. Mas tal como o comandante da zona também o comandante do grupo operacional não dispunha de um estado-maior de combate. Em termos práticos foram responsabilidades de cariz vincadamente unipessoal e, por isso, foram deficientemente exercidas mas nunca ninguém se apercebeu desta lacuna porque não fazia parte da nossa cultura.

ANTECEDENTES DO ABATE DO PIRATA [9]

No dia 26 de Julho de 1968 uma parelha de G-91, em patrulhamento na fronteira Sul, foi alvejada por fogo antiaéreo, na vizinhança do corredor do Guilege. O relatório do chefe da formação referia que foram detectadas três armas no ponto GUILEGE 8 H 1 5/9, próximo da antiga tabanca de Sare Morso [10]

Porque situações desta natureza tinham sido comuns nos últimos meses de 1967 até Março de 1968 tudo sugere que não foi atribuído nenhum carácter de urgência ou excepcionalidade à informação. No entanto, havendo diariamente um briefing dado pelos oficiais de informações do CCAA às 17h00, sobre a actividade efectuada em cada dia, é muito provável que o facto tenha sido divulgado nessa altura. Pessoalmente não tenho memória disso e tenho a certeza de que se tivesse dado conta dessa ocorrência teria ficado focado nela. Mas mais ainda, se o assunto não foi referido no briefing ao fim do dia deveria ter sido no briefing da manhã, no dia seguinte, às 08h00, onde era exposta a actividade prevista para esse dia. 

Também, provavelmente pensando que a posterior análise do relatório seria suficiente para desencadear as acções mais adequadas, os pilotos envolvidos não comunicaram o facto de viva voz, nem ao comandante da Esquadra 121, nem ao comandante do Grupo Operacional. O certo é que nenhum deles tomou conhecimento da existência daquela AAA [11] e isso influenciou negativamente as decisões posteriores.
Nesse mesmo dia 26 de Julho, ao fim da tarde, na reunião diária no Comando-chefe [12], foram referidas pelos oficiais de informações notícias dando conta da existência ou construção de um túnel na zona fronteiriça, que passaria debaixo do corredor [13] que, vindo de Kandiafara, penetrava no território nacional. Como nessa altura o alvejamento dos G-91, ocorrido durante a manhã, ainda permanecia no âmbito da Força Aérea, os oficiais de informações do Comando-chefe não estabeleceram qualquer ligação entre aquelas notícias e a AAA que já fora detectada.
No dia seguinte, 27 de Julho, uma segunda parelha de G-91 voltou a ser alvejada pelas mesmas armas [14] mas, novamente, nem o comandante da Esquadra 121 nem o comandante do GO 1201 tomaram conhecimento do facto. O relatório deve ter tido o tratamento de rotina a nível do CCAA mas não influenciou imediatamente o nível de decisão do grupo operacional, o que se pode explicar por motivos de natureza circunstancial. 

Provavelmente, absorvidos por outras solicitações, nem o comandante do GO 1201, nem o comandante da Esquadra 121 assistiram aos briefings de informações das 17h00 do dia anterior nem ao das 08h00 desse dia e também nenhum dos pilotos envolvidos achou necessário comunicar-lhes o facto directamente.
Sensivelmente na mesma altura em que os guerrilheiros,  certamente apoiados pelos barbudos do Fidel [15] como era a prática corrente, faziam tiro ao alvo à parelha de G-91 que acabo de referir, o tenente-coronel Costa Gomes chamou o capitão Vasquez que conhecia bem o trilho do corredor do Guilege e informou-o sobre as notícias que ouvira no dia anterior referindo o aumento da actividade do PAIGC e a história da construção de um túnel. Deu-lhe então instruções para efectuar um reconhecimento visual em DO-27, para confirmar ou desmentir essas notícias, e recomendou-lhe que levasse com ele um piloto de helicópteros para o caso de vir a ser necessário lançar uma operação helitransportada.
Friso novamente que, até ao momento, apesar das indicações já existentes, tanto o comandante do grupo como o capitão Vasquez continuavam a ignorar a existência de armas AA [16] activas junto ao corredor do Guilege. Começou assim a desenhar-se uma armadilha que iria ter consequências desastrosas.

O RVIS [17] AO CORREDOR DO GUILEJE NA TARDE DO DIA 27 DE JULHO DE 1968

É com as palavras que se seguem que o então capitão Vasquez relata o que aconteceu durante o RVIS:
“Planeei a missão com o tenente Ruano e descolámos com destino ao corredor do Guilege.
Iniciámos o reconhecimento a partir de Porto Balana voando a cerca de 300 pés sobre o terreno e mantendo o trilho à nossa direita. Fomos observando ou "lendo" o trilho, à procura de indícios que configurassem ou não a suspeita levantada na reunião no Comando-Chefe.
Pouco depois de atravessar a picada Gadamael Porto - Gandembel, seguindo o corredor em direcção à “cambança” para Kandiafara e com o trilho entre 200 a 300 metros à direita, fomos subitamente surpreendidos por um intenso tiroteio antiaéreo, vindo da esquerda da nossa rota de voo. As armas que disparavam, seriam duas ou mais, dado o intenso matraquear ouvido dentro do avião e a quantidade de trajectórias tracejantes avistadas, próprias de armas de calibre não inferior a 12,7 mm. (Ver a rota de voo, no croquis da carta de 1/50.000).
Reagi voltando imediatamente pela direita para me afastar das armas e por sorte entrei imediatamente num aguaceiro que caía naquele momento sobre o trilho o que terá facilitado o escape. Não sentimos nenhum estrondo, nem surgiram sinais de mau funcionamento o que deu logo a sensação de que não tínhamos sido atingidos.
Regressámos imediatamente a Bissau com uma aterragem intermédia em Buba para inspeccionar o avião, o que permitiu confirmar que não tinha sido danificado.”  
A rota do RVIS desenhada numa carta 1:50.000 pelo ex-capitão Vasquez
À chegada à BA12, Bissalanca, o capitão Vasquez e o tenente Ruano foram imediatamente relatar ao tenente-coronel Costa Gomes o que se tinha passado. O comandante do grupo mostrou-se surpreendido e questionou a credibilidade da presença das armas AA naquela zona. Na sua ideia, a anterior tentativa de o PAIGC declarar o Quitafine uma zona libertada [18], com recurso à instalação de numerosas armas AA, tinha acabado por ser derrotada em Março de 1968 e não faria agora sentido insistirem naquela táctica porque a Força Aérea acabaria por destruir-lhes o arsenal. 

Além disso, tinha sido o tenente-coronel Costa Gomes que liderara essa campanha e penso que lhe custou admitir que, pelo menos aparentemente, estava tudo a voltar à estaca zero. Chegou mesmo a chamar a atenção do capitão Vasquez para a responsabilidade do que estava a relatar mas a segurança das afirmações dos dois pilotos acabou por convencê-lo.​
É certo que o PAIGC tinha continuado a instalar AAA ao longo da fronteira mas apenas em território da Guiné-Conacri. Procuravam atingir os aviões a operar nas proximidades e raramente foram detectadas. Lembro-me de uma vez em que voava sobre a fronteira Sul com o tenente Firmino das Neves ter avistado por entre a folhagem o característico relampejar de uma AA que não nos atingiu. 

Outro caso de que tenho conhecimento, esse na mesma altura em que ocorreu o episódio objecto do presente relato, deu-se com uma parelha com o capitão Vasquez e o tenente Balacó Moreira. Voavam também sobre a fronteira e começaram a ver uma série de flocos que se formavam mais acima da altitude de voo. Eram claramente rebentamentos de granadas de canhões AA 37mm que deviam estar programadas para os 8.000´. Não foi possível detectar as armas e o chefe da formação deu ordem para descer imediatamente para anular o campo de visão dos atiradores não tendo havido consequências.
Ao fim da tarde, na reunião no Comando-chefe, o tenente-coronel Costa Gomes comunicou então o que se tinha passado durante o RVIS no corredor do Guilege. A reacção do brigadeiro Spínola, no seu estilo peculiar, foi muito directa e até um pouco desabrida:
- Isso é um problema para a Força Aérea resolver! – disse ele rodando a cara de modo a fixar o comandante do grupo operacional.
O então tenente-coronel Costa Gomes diz que até lhe pareceu que o monóculo do comandante-chefe faiscou quando deu aquela ordem. Talvez tenha sido o reflexo momentâneo de alguma luz mas o que mais o marcou foi a percepção de que naquele caso a Força Aérea era ele, Costa Gomes, e só ele. Sentiu por isso que o comandante- chefe lhe estava a dar uma ordem de missão personalizada e que ele, naturalmente, teria de cumprir.

UM RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO QUE CORREU MAL

No dia seguinte o comandante do GO 1201 deu ordem para que fosse preparada uma parelha de G-91 para se efectuar um reconhecimento fotográfico. Nessa manhã eu estava incumbido de executar um TGER [19] em DO-27 em apoio do batalhão de Nova Lamego. Por mero acaso, antes de partir, assisti a uma conversa entre o comandante do grupo e o capitão Vasquez em que os dois combinavam um reconhecimento fotográfico a baixa altitude para localizar e identificar umas AA junto ao corredor do Guilege. Foi a primeira vez que ouvi falar dessas armas e, não sei porquê, fiquei com a sensação que aquilo podia correr mal.
Conta o então capitão Vasquez que planeou a missão sozinho e que, numa carta 1:50.000, traçou uma rota em que o ponto inicial para a aproximação ao alvo era o aquartelamento do Guileje. Daí para a frente era só manter rumo e velocidade e o alvo devia ser avistado, se tudo corresse bem, um minuto e dezasseis segundos depois. A baixa altitude não havia referências, só se via o campo verde de um ondulado uniforme formado pelas copas das árvores. A navegação tinha que ser por isso muito estável e ao fim do tempo era necessário subir ligeiramente para tentar detectar visualmente onde estavam as AA, manobrar para corrigir a posição relativa, colocar o retículo da câmara mais adequada no alvo e accionar o sistema fotográfico.
A seguir deviam descer imediatamente e afastarem-se flectindo para a esquerda para evitar entrar na Republica da Guiné-Conacri.  
Quando os dois pilotos chegaram à linha da frente levantou-se a questão de quem seria o número um da formação. Pessoalmente penso que isso seria indiferente visto que naquele tipo de aproximação baixa apenas contava o rigor da navegação. O capitão Vasquez embora já tivesse sido alvejado por aquelas AA não sabia com precisão onde elas estavam e, portanto, tinha tantas probabilidades de acertar como o comandante do grupo. Estava era mais rotinado no voo baixo o que poderia facilitar a detecção de qualquer pormenor que lhe permitisse corrigir a navegação e, por último, estava mais habituado a utilizar o equipamento de reconhecimento fotográfico. No entanto, apesar de contestada pelo capitão, a decisão do comandante do grupo foi peremptória: seria ele a liderar a missão. 

Nos últimos anos ouvi várias vezes o então tenente-coronel Costa Gomes explicar o que o levou àquela opção. Evoca normalmente dois motivos. Diz ele que, naquela altura, imaginava ter sido directamente responsabilizado pelo comandante-chefe. Sentia que o brigadeiro Spínola estava à espera que fosse ele a resolver o problema daquelas AA e, além disso, como se tratava de uma missão com algum risco e sendo o mais antigo não podia deixar de ser ele a ir à frente. Era inadmissível proceder de outra forma. O que se passou a seguir foi mais ou menos o seguinte:
A parelha descolou seguindo os procedimentos de rotina e voaram a uma altitude confortável até terem o Guileje à vista. O tenente-coronel Costa Gomes pilotava o G-91 5411 e o capitão Vasquez seguia-o cerca de 300 metros atrás no G-91 5416. Depois desceram e passaram o Guileje já a voar muito baixo. O número dois deixou-se então atrasar para criar maior espaçamento entre os aviões e facilitar a manobra individual. Ao fim do tempo previsto o número um iniciou uma subida suave para tentar localizar as armas. Viu-as imediatamente à sua direita, numa zona desmatada, com um ligeiro declive, mas estava praticamente em cima delas sem condições para fotografar. Aparentemente surpreendidos os atiradores das AA não abriram fogo imediatamente, possivelmente porque estavam à espera de alvos na direcção de Gandembel, que era para onde estava virada a encosta onde estavam instalados.
Reflectindo agora sobre os detalhes deste momento penso que o facto de não terem disparado logo terá funcionado no imediato como uma espécie de tranquilizante para o tenente-coronel Costa Gomes. Só assim se justifica que numa situação tão vulnerável não tenha iniciado imediatamente uma manobra de evasão. Ainda estava a avaliar o que poderia fazer para se colocar em posição para fotografar quando, por volta dos 800’ e com cerca de 250 nós de velocidade, viu as armas começarem a disparar todas ao mesmo tempo e sentiu o que lhe pareceu serem umas pancadas na fuselagem. Imediatamente acenderam-se as luzes de aviso de fogo o que o levou, instintivamente, a aumentar ainda mais o ângulo de subida. Pelo retrovisor viu que tinha fogo na cauda e então comunicou [20] ao número dois o que sucedera e pediu-lhe para verificar o estado do avião.
O capitão Vasquez, concentrado na sua própria navegação, não tinha dado por nada. Estava a procurar localizar as AA, que não chegou a ver, quando ouviu a comunicação do chefe da parelha. Olhou imediatamente para a frente e viu o outro avião numa atitude pronunciada de subida com a cauda envolta em chamas que se prolongavam num longo rastro. 
Há quase cinquenta anos que o ouço repetir o que sentiu naquele momento. Diz ele que a situação lhe pareceu tão severa que não hesitou em dar-lhe indicação para se ejectar imediatamente, apesar dos gravíssimos perigos que o esperavam no solo:
- "Pirata, tem fogo, ejecte-se já, Pirata, ejecte-se já" !!!!
- “Vou aguentar mais um bocado” – respondeu o Pirata que, apesar do fogo, estava bem consciente dos riscos da proximidade aos guerrilheiros do PAIGC.
A seguir, o número dois observou o avião do chefe a meter a asa esquerda em baixo e rodar para esse lado, a muito baixa velocidade, como se fosse fazer um “renversement”. Não chegou a rodar 180º mas terá completado entre 110º e 120º de rotação nessa manobra saindo mais ou menos apontado ao sol e ao único aquartelamento do Exército naquela zona: Gandembel.
O tenente-coronel Costa Gomes conhecia bem a área, tinha estado poucos dias antes no aquartelamento com o brigadeiro Spínola e por isso estava orientado e foi sem dificuldade que, apesar da aflição, localizou imediatamente o aquartelamento. Manteve a direcção do voo até ter Gandembel mesmo à sua direita e então ejectou-se. Pelos meus cálculos terão decorrido cerca de 30 segundos desde que foi atingido até esse momento.
O número dois, que entretanto tinha “cortado a volta” para se aproximar, ficou a ver o pára-quedas descendo sobre a mata, bastante próximo do aquartelamento. Foi então que mudou para a frequência de apoio aéreo e emitiu o alarme que compõe o título deste relato.


O TCor Costa Gomes com o comandante-chefe em Gandembel poucos dias antes de ser abatido


A rota desde o Guileje até  ao alvo e depois à ejecção.


GANDEMBEL

Gandembel era um aquartelamento que tinha sido montado com o propósito de servir de base a uma companhia do Exército cuja missão era interditar o caminho de infiltração/exfiltração do PAIGC, conhecido como corredor do Guileje. Existiu desde princípios de Abril de 1968 até Fevereiro de 1969.
A ideia do brigadeiro Arnaldo Schultz, na altura governador e comandante-chefe, era boa mas o conceito operacional revelou-se um desastre e nunca foi corrigido satisfatoriamente. Participei na operação Bola de Fogo com que se deu início à construção do aquartelamento e posteriormente efectuei numerosas missões de reconhecimento e de ataque na zona de Gandembel e no corredor do Guilege.

Corredor que nas memórias de muitos ex-militares tem sido promovido ao estatuto de “corredor da morte”, certamente para enfatizar o sofrimento de quem serviu de alvo aos guerrilheiros em Gandembel ou ainda, para outros que insistem em vitimizar-se e, em última análise, a vitimizar-nos a todos nós perante os nossos inimigos da altura e que é uma qualificação da qual discordo completamente. Decorre do politicamente correcto com que os vencedores do 25A nos vacinaram e que ensombra a dignidade desse esforço sublime que foi a defesa do Portugal pluricontinental e multirracial cujos benefícios civilizacionais poderiam ter trazido muito mais vantagens a todos os povos envolvidos do que o que temos testemunhado nos últimos quarenta anos com as independências.


O aquartelamento da CCaç 2317 em Gandembel
Foi sempre muito difícil descobrir vulnerabilidades que pudessem ser exploradas para quebrar a capacidade militar do PAIGC. Tal como os outros movimentos que nos combateram, o PAIGC era apenas a ponta da lança de um vasto sistema adversário, de natureza quase global. Sistema que entroncava no programa de descolonização da ONU mas que era potenciado por diversos interesses, uns de natureza ideológica, outros económica, outros pura e simplesmente de afirmação no concerto das nações. 

Neste âmbito, refiro por exemplo o papel do que na altura acreditava ingenuamente ser um país irmão, o Brasil e, no fim de contas, de todos os países das Américas. Nenhum deles foi descolonizado nos moldes em que a descolonização foi imposta a Portugal visto que a administração dos respectivos territórios passou para as populações colonizadoras em vez de ter sido transferida para os autóctones. Tornaram-se independentes das metrópoles mas não foram descolonizados segundo os princípios do programa da ONU. Todavia foram activamente solidários com os movimentos de libertação anti-Portugal como se se tratasse de uma obrigação entre pares: apoiamos a vossa luta porque sabemos o que isso é, também fomos colonizados!          
No sistema adversário que enfrentámos na Guiné tínhamos no terreno o PAIGC e os cubanos mas o determinante foi que a sua liberdade de acção para nos atacar foi sempre promovida por uma amálgama de entidades em que pontuavam as oposições internas, a URSS, a China, Cuba, os países do Norte da Europa, Senegal, Guiné-Conacri, República do Congo, República Democrática do Congo, Zâmbia, Tanzânia, movimento dos não alinhados, Organização de Unidade Africana, Organização das Nações Unidas, etc.. 

Se não fossem estes apoios os movimentos de libertação, por si sós, nunca teriam sido capazes de lançar e manter operações de guerrilha sustentadas durante um período tão longo nem alcançar os seus objectivos como de facto aconteceu. No caso do PAIGC uma capacidade relevante foi a concessão de santuários nos territórios envolventes onde se reabasteciam, treinavam e organizavam para lançar ataques às posições portuguesas e para onde depois retiravam para se furtarem a eventuais perseguições.
Ao invés, do lado português não havia santuários de refúgio. Todo o território da Guiné-Bissau era uma responsabilidade nacional, as posições ocupadas eram bem conhecidas e por isso podiam ser atacadas sempre que o PAIGC quisesse e quando quisesse. Pudéssemos nós fazer o mesmo e a guerra certamente teria sido diferente embora nunca pudesse ser ganha dado o potencial estratégico do sistema adversário.
Neste quadro, as vulnerabilidades do PAIGC não eram muitas nem significativas. Tudo jogava a seu favor. Todavia, as linhas de infiltração para dentro do território nacional, apesar dos percursos relativamente curtos, ainda assim eram uma vulnerabilidade e ofereciam-nos algumas oportunidades. Se tivéssemos sido capazes de montar operações eficazes contra os movimentos de infiltração e exfiltração, portanto quando a guerrilha era vulnerável, podíamos ter desequilibrado pontualmente o inimigo. 

Foi essa a ideia que presidiu à construção de Gandembel, que foi instalado a cerca de 4 Kms em linha recta do corredor do Guileje. O corredor do Guileje podia por isso ter sido um corredor da morte para o PAIGC mas não foi e, certamente, também não foi para nós. Para as guarnições do Exército na área, a haver um corredor da morte só poderá ter sido a picada que unia Gadamael, Guileje, Gandembel e Aldeia Formosa. Foi nesses caminhos, onde transitavam as colunas de reabastecimento, que tivemos mortos e feridos em consequência das minas e das emboscadas. Não na linha de infiltração do PAIGC, conhecida por corredor do Guileje, como muitos parecem querer dar a entender.
Coube à companhia de caçadores 2317 guarnecer Gandembel mas, em vez de se constituir como ponto de apoio para o lançamento de operações de interdição no corredor do Guileje, a capacidade da unidade esgotou-se na defesa imediata do aquartelamento e na protecção das colunas logísticas vindas de Gadamael ou de Aldeia Formosa. Na prática oferecemos de bandeja um alvo vulnerável ao PAIGC que imediatamente concentrou numerosos efectivos na área e ficou a sitiar o aquartelamento até ser abandonado, menos de um ano depois. Apenas o reforço com grupos de combate do batalhão de pára-quedistas permitiu aliviar a pressão a partir de Agosto de 1968.
No dia 28 de Julho de 1968, quando o tenente-coronel Costa Gomes se ejectou, o aquartelamento de Gandembel estava praticamente deserto. Os grupos de combate da Ccaç 2317 estavam na estrada para Aldeia Formosa, em apoio a uma coluna de reabastecimento que se aproximava. Alguns dos militares que estavam fora ouviram os disparos das AA e chegaram a ver o avião em chamas. No aquartelamento apenas se encontrava pessoal dos serviços, as guarnições dos dois obuses de 10,5, que eram negros do recrutamento local [21], e o comandante da companhia, o capitão Barroso de Moura. O comandante da companhia também foi alertado pelo fogo AA e viu o avião libertando inicialmente fumo negro que foi evoluindo para um rastro de fogo. O mesmo aconteceu com o pessoal dos obuses e todos foram seguindo a trajectória até à ejecção que se dá para sudeste, acabando o pára-quedas por desaparecer por entre as árvores, a muito curta distância [22]

A reacção deste pessoal foi muito rápida. Barroso de Moura dá ordem para fazer soar as buzinas das viaturas e para serem lançadas granadas de fumo e sai com um pequeno grupo, em que sobressaíam os homens da artilharia, em direcção ao local da aterragem. Embora progredissem com cautela demoraram apenas cerca de dez minutos até encontrarem o pára-quedas pendurado numa árvore e, apesar do comandante da companhia ir gritando repetidamente “piloto, somos nós, nossas tropas!”, não conseguiram dar com o piloto.

AFINAL O INIMIGO NÃO ERA, OU "À NOITE TODOS OS GATOS SAO PARDOS"...

Durante a descida em pára-quedas o tenente-coronel Costa Gomes memorizou a posição do aquartelamento de Gandembel em relação ao sol e à picada que passava a menos de 100 metros a este. Por isso, quando chegou ao chão, não tinha dúvidas que se caminhasse em linha recta paralelamente à picada Gadamael Porto-Aldeia Formosa, mantendo o sol à sua esquerda, iria literalmente chocar com o aquartelamento. A aterragem também tinha corrido bem apesar de ter caído em cima de uma árvore alta e ficado suspenso pelos cordões do pára-quedas a cerca de um metro acima do solo. Não teve porém muita dificuldade em desembaraçar-se do arnês e deixar-se escorregar para o chão.
Logo a seguir procurou orientar-se para determinar a direcção a seguir. Ao pesquisar o local onde se encontrava vislumbrou, por entre a vegetação, a picada e todas as dúvidas sobre a direcção a tomar se desvaneceram. Começou a andar o mais rapidamente possível mas passado pouco tempo sentiu vozes à sua frente. Parou imediatamente e manteve-se imóvel perscrutando nessa direcção e logo a seguir reparou na oscilação de alguns arbustos. Agachou-se e procurou a pistola Walther que trazia no cinturão sobre o fato anti-G, mas o coldre estava vazio [23]

A cerca de trinta metros de distância descortinou então um preto de tronco nu, em calções, com uma fita de munições a tiracolo. Avançava cuidadosamente afastando a vegetação com as mãos. Atrás deste apareceu outro homem também preto e foi aí que o tenente-coronel pensou que estava perdido. Praticamente ficou deitado no chão e manteve-se assim, imóvel, durante alguns minutos. Depois, quando pensou que o “inimigo” tinha passado, começou a progredir a quatro, em direcção ao aquartelamento. Foi um esforço desgastante debaixo de enorme tensão. 

O tenente-coronel Costa Gomes, embora tivesse estado por diversas vezes em Gandembel, não sonhava que os obuses 10,5 cm eram operados por pessoal do recrutamento local. Ficou por isso convencido que os pretos armados que tinha avistado só poderiam ser guerrilheiros. Por acaso não eram, eram os homens do capitão Barroso de Moura [24] que, apesar de ir gritando  “piloto, somos nós!”, nunca foi ouvido. 

Inicialmente a distância e a vegetação e depois talvez alguma desorientação induzida pela situação em que se encontrava terão impedido que o tenente-coronel se apercebesse dos chamamentos. Ele ouviu qualquer coisa e foi isso que permitiu detectá-los mas não entendeu o que era e depois de ter avistado aqueles dois homens armados só pensava em afastar-se deles, o que é lógico. Diz ele, com toda a razão que, mesmo que soubesse que existiam militares pretos em Gandembel, nunca podia ter corrido o risco de se revelar. Então e se eles não fossem dos bons?
Por precaução arrancou os galões e o nome que tinha cosidos no fato de voo.
Entretanto tinham começado a chegar os aviões que se encontravam mais próximo. Uma parelha de T-6 que se preparava para bombardear um alvo, possivelmente em Salancaur, cerca de 12 km para oeste de Gandembel, abortou o ataque quando ouviu a comunicação do Tubarão. Olhando na direcção de Gandembel o alferes miliciano Marinho de Moura [25] ainda viu o pára-quedas do tenente-coronel Costa Gomes penetrar na floresta e desaparecer. Demorou cerca de 5 minutos a atingir esse ponto e ao circular na zona acabou por detectar o piloto no chão muito próximo da picada, do lado oeste. Foi esta informação que passou a outro piloto que também se aproximava no DO-27 3333 e que, por isso, tinha melhores condições para manter contacto visual com o alvo, coisa que não era fácil de fazer com o T-6. 

Vindo de sudoeste, quando se encontrava a efectuar o “sector” de Buba, o furriel miliciano Graciano Gomes da Silva apanhou a estrada para Gandembel no cruzamento para o Guileje e terá chegado à zona cerca de cinco minutos depois dos T-6. Recorda-se que a informação que o Melro lhe passou foi que o Pirata se encontrava do lado esquerdo da estrada, relativamente perto desta e a sul de Gandembel. Desceu então para uma altitude adequada para melhor detectar os detalhes do terreno por entre o arvoredo que deslizava por baixo e, por sorte, avistou-o logo, de relance, numa pequena clareira, a cerca de 30/40 m da estrada e a não mais de 200 metros da cerca exterior do aquartelamento. 

Lá em baixo, o tenente-coronel Costa Gomes sentira a aproximação do avião e procurara rapidamente um espaço com pouca vegetação, onde pudesse ser avistado do ar, no que foi bem sucedido. A seguir, o piloto do DO-27 iniciou imediatamente uma volta e preparou-se para passar novamente na clareira, desta vez a baixa velocidade. Foi assim que o ex-furriel Gomes da Silva me relatou essa manobra:
Dei início à segunda passagem, com tudo o que tinha para garantir o contacto:
- Altitude quanto baste, flaps, baixa velocidade, janelinha de ventilação aberta e toda a carga emocional para visualizar e tentar ajudar o Pirata.
- À vertical passei com o braço esquerdo fora da janelinha a apontar ferozmente a direcção do quartel.
-Foi de tal forma convincente a informação que o Pirata, de braços erguidos na vertical a pedir ajuda, partiu sem hesitar, sensivelmente para norte, a corta mato na direcção do quartel.
- Nesse momento o Pirata estava só e não avistei mais ninguém.”
No solo, o tenente-coronel Costa Gomes percebeu claramente a sinalética do piloto do DO-27 que coincidia com a direcção que estava a seguir. Tendo-se desembaraçado dos presumíveis guerrilheiros, e agora sentindo o apoio do DO-27, o nível de confiança aumentou. Apressou então o passo mas entrou numa zona de mato cerrado e o furriel Gomes da Silva deixou de o ver. Estava nessa altura já muito próximo do aquartelamento e poucos minutos depois desembocou na envolvente desmatada e ficou com o aquartelamento à vista. Ao aproximar-se deu depois com o caminho que ligava a “porta de armas” à picada Gandamael-Aldeia Formosa. Seguiu então por esse caminho e entrou sozinho na “parada” do aquartelamento que, à primeira vista, lhe pareceu deserta. Reparou depois num pequeno grupo de militares que olhavam para o exterior e um deles quando deu com ele ali especado terá exclamado para os outros: “Olha, o piloto está ali!”   
Neste espaço de tempo o furriel Gomes da Silva tinha iniciado uma volta mais larga no DO-27 para não denunciar a posição do Pirata e, quando pensa estar novamente a vê-lo, a cerca de 50 mts da clareira inicial, diz “que o vê a caminhar devagar já acompanhado de alguns “militares”, cerca de quatro, todos com andamento calmo, ligeiramente afastados uns dos outros.”
Confessa que não detectou o encontro do Pirata com o grupo porque isso deu-se numa zona arborizada mas recorda-se de os ver “semi-fardados”, alguns em calções e apenas com a arma, em campo aberto na zona desmatada e à vista, a caminhar em direcção ao quartel e que por isso não poderiam ser inimigos. Acrescenta que quando confirmou via rádio que tinha o Pirata à vista, o Melro avisou que se retirava da zona, e nos minutos seguintes, por se encontrar a baixa altitude e fixado naquele grupo, deixou de avistar os T-6. Lembra-se também que ainda viu alguns elementos da guarnição fora do arame e na zona compreendida entre a estrada e o aquartelamento a caminharem ao encontro do grupo que rodeava o Pirata, tendo todos entrado para o interior do arame farpado, sem incidentes.
O que aconteceu na realidade foi que o alferes “Chico” Trindade [26], que comandava um dos grupos de combate da Ccaç 2317, tinha entretanto chegado ao aquartelamento, vindo da direcção da Ponte Balana, e foi ele que avisou, por rádio, o capitão Barroso de Moura de que o piloto já lá estava. Como já referi, Barroso de Moura e os artilheiros tinham encontrado o pára-quedas em parte suspenso de uma árvore, mas não deram com o piloto. Ainda lhe seguiram o rastro durante algumas dezenas de metros mas depois perderam-no e já vinham a regressar quando receberam essa comunicação. É, portanto, o grupo do capitão Barroso de Moura que o furriel Gomes da Silva vê a aproximar-se do aquartelamento. Por essa altura o tenente-coronel Costa Gomes, completamente desgastado pela intensidade da odisseia que o acabara de atropelar bebia uma água “Perrier” que os militares lhe tinham oferecido e tentava recuperar o ânimo deitado num colchão de espuma de borracha, na caserna para onde o alferes Trindade o levara.
Diz o ex-capitão Barroso de Moura que talvez 20-25 minutos [27] após de ter saído do quartel entrou nessa caserna onde estava o tenente-coronel na companhia do alferes Trindade e talvez de mais um ou dois militares. Diz que o viu visivelmente perturbado – o que é natural – e que procurou falar com ele, ao que ele repetia “não sei como foi isto (ou como isto aconteceu…).”
Destes momentos o então tenente-coronel Costa Gomes já não se recorda muito bem do que se passou, nem com quem falou, mas lembra-se perfeitamente [28] que, às tantas, ficou só na caserna deitado no colchão e apercebeu-se de uns militares atrás de si, tendo ouvido um deles a sussurrar para outro: “- Eh pá, estás a ver, o gajo é velho!”.
Esta apreciação, numa altura em que ainda se sentia muito abalado, foi muito desconfortável e o tenente-coronel Costa Gomes nunca mais a esqueceu. De facto, como se não bastasse ter sido derrubado pela AAA do PAIGC, ainda por cima era visto como “um velho” pelos soldados. Hoje tudo me corre mal, pensou o comandante do grupo que fazia uma avaliação muito mais favorável da sua figura. Todavia a realidade é sempre inexorável e, naquele ambiente em que reinava a juventude, um homem de quarenta anos, cansado, suado e coberto de pó, perante jovens com metade da idade, seria sempre considerado um “velho”.
Dos aviões que convergiram para Gandembel eu seria o último a chegar à zona porque estava a uma distância maior. Ao fim de vinte minutos, e já muito próximo, percebi pelas comunicações do furriel Gomes da Silva que o problema estava resolvido e voltei à minha missão inicial.   


A zona desmatada, sobre a fronteira, onde estiveram instaladas as armas antiaéreas

COMO REAGIU O GRUPO OPERACIONAL 1201

Houve outros aviões que estavam no ar na altura em que o tenente-coronel Costa Gomes se ejectou mas que não puderam dar apoio. Foi o caso de uma parelha de G-91 formada pelos tenentes Vasconcelos e Sá e Firmino Neves que tinha ido atacar um alvo na mata central do Como. Os pilotos estavam a regressar à Base quando ouviram a comunicação rádio do capitão Vasquez mas não podiam fazer nada. Tinham que aterrar porque estavam com pouco combustível. Assim que chegaram ao estacionamento surgiu o tenente Balacó Moreira, o único piloto de G-91 disponível na Base, a dar indicações aos mecânicos para aprontarem rapidamente outra parelha. Foi por isso que o tenente Firmino Neves desceu de um avião e entrou noutro logo a seguir e depois descolou atrás do tenente Balacó Moreira em direcção a Gandembel. A meio do caminho ouviram a comunicação que finalmente nos sossegou informando que o comandante do grupo tinha entrado no aquartelamento e estava a salvo.       
Na Base, quando o oficial de dia ao CCAA  tomou conhecimento da ejecção em Gandembel, não havia ninguém com autoridade para decidir a nível do grupo. Os dois oficiais que detinham esse estatuto eram o comandante do grupo e, informalmente, o comandante da esquadra 121. Um tinha-se ejectado e o outro tinha dado a única ordem que podia naquelas circunstâncias: “Saia a Força Aérea, o Pirata ejectou-se em Gandembel!”
O oficial de dia ao CCAA chamou então os pilotos que estavam disponíveis para os inteirar do que tinha acontecido. Na esquadra 121 só havia um piloto no chão, o tenente Balacó Moreira, que decidiu o que acabei de relatar. O comandante da esquadra 122 [29] era corredor de fundo e ainda estava em forma. Quando foi informado do que se passava deu instruções para saírem dois helicópteros, um deles armado para apoio de fogo. Depois, foi a correr para a linha da frente dos ALIII que distava uns 200 mts do grupo operacional. Quando lá chegou deu ordem a um primeiro cabo mecânico para retirar as seguranças de um dos helicópteros que estava pronto e já se tinha sentado e amarrado quando se lembrou que não tinha nenhuma carta consigo. Libertou-se dos cintos rapidamente e, embora nunca se tenha descortinado o que o motivou, virou-se para o mecânico e disse-lhe:
-Venha daí! – e começou a correr novamente desta vez em direcção ao edifício do grupo operacional, seguido pelo mecânico que mal o conseguia acompanhar.
Quando chegou entrou no CCAA para recolher uma carta 1:50.000 do Guilege e depois iniciou nova corrida desenfreada, em sentido contrário, mas o primeiro cabo mecânico que continuava a tentar segui-lo começou então a perder terreno e a distanciar-se cada vez mais. Tornou a subir para o helicóptero e amarrou-se novamente e, às tantas, reparou no mecânico que acabava de chegar completamente arrasado:
- O que é que você anda a fazer? – perguntou-lhe, não se lembrando já da ordem que lhe tinha dado.
- O meu capitão disse-me para ir consigo e eu fui!- respondeu o mecânico.
Foram sem dúvida momentos de grande frenesim em que cada um procurou fazer o melhor que sabia e podia, o mais depressa possível. Tal como aconteceu com os G-91 também os pilotos dos ALIII tomaram conhecimento, a caminho de Gandembel, que o tenente-coronel Costa Gomes já se encontrava a salvo. Seguiram, por isso, directamente para o aquartelamento para recolher o comandante do grupo. O que podia ter sido um problema gravíssimo foi assim resolvido rapidamente e, apesar da perda do avião, ficámos todos aliviados. 
A esquadra dos T-6 também reagiu tendo feito descolar uma parelha para dar protecção aos AL-III durante a busca mas que acabaram por fazer o mesmo durante o tempo em que os helicópteros estiveram aterrados em Gandembel.

AO FIM DO DIA NO COMANDO-CHEFE

Como referi, no princípio fazia parte da rotina diária uma reunião no Comando-chefe, presidida pelo brigadeiro Spínola, na qual se actualizava a situação operacional. Da parte da Força Aérea tinham assento nessa reunião o comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, Coronel PilAv Rui da Costa Cesário, e o comandante do Grupo Operacional 1201.Uma outra presença em apoio do comandante do GO 1201 era normalmente um dos oficiais de informações do CCAA. O tenente José Soeiro Arada foi, por isso, uma testemunha privilegiada da reunião do dia 28 de Julho de 1968.
Nesse dia, depois de regressar à BA12 vindo de Gandembel, o tenente-coronel Costa Gomes teve tempo para recuperar do trauma e preparar-se para explicar no Comando-chefe a odisseia que vivera. Apresentou-se rejuvenescido e bem disposto como que a tentar anular o comentário com que tinha sido mimoseado pelos soldados em Gandembel. Naturalmente que todos o queriam ouvir e o episódio foi pormenorizadamente descrito com graça e alguma ironia. No final foi efusivamente felicitado pelos presentes.

A TESE DA ARMADILHA E A MANIPULAÇÃO DA DGS PELO PAIGC

Para concluir devo acrescentar que o PAIGC retirou imediatamente as armas AA que derrubaram o tenente-coronel Costa Gomes sem que tivesse havido qualquer ataque na nossa parte. Por curiosidade, num dos dias seguintes, fui ver onde tinham estado montadas as armas e procurar os restos do G-91 5411. Levei comigo uma câmara fotográfica portátil para fazer algumas imagens.
O que descobri deixou-me intrigado. A área desmatada onde as armas tinham sido colocadas era mesmo na fronteira e talvez estivesse já dentro do território da Guiné-Conacri. O terreno era inclinado e estava voltado na direcção de Gandembel. Parecia o primeiro balcão de uma sala de cinema. O campo de visão na direcção de Gandembel era tão óbvio que fiquei convencido que as armas tinham sido ali colocadas de propósito para tentar abater um avião qualquer que surgisse na zona do aquartelamento, o que acontecia com muita frequência. 

Também nada indicava que as armas se destinavam a proteger a passagem da guerilha no corredor do Guilege, como na altura se aventou. Aliás, com um raio de acção eficaz de 2.000 mts apenas, as DShK [30] , só no limite do seu raio de acção poderiam interferir com as acções aéreas numas escassas centenas de metros no início do corredor. Nesta ordem de ideias, as notícias sobre a construção de um túnel foram provavelmente um engodo para atrair um avião para aquela zona. 

Não conseguiram abater o DO-27 do capitão Vasquez mas conseguiram abater no dia seguinte o G-91 do tenente-coronel Costa Gomes. Mais, tendo sido bem sucedidos uma vez, seria natural que tentassem uma segunda oportunidade, mas não. Fiquei por isso convencido que a instalação daquelas AA teve apenas um objectivo: tentar abater um avião qualquer e retirar logo de seguida para se furtarem à inevitável retaliação.
Por tudo isto, não consigo também deixar de fazer uma ligação entre a história do túnel e o trágico acontecimento, ocorrido anos mais tarde,  no dia 28 de Março de 1973. Nesse dia, foi recebida no COAT uma informação da DGS segundo a qual estaria em curso uma reunião de altos quadros do PAIGC em Madina do Boé. Embora se tenha suspeitado de uma armadilha o comandante do grupo, que na altura era o tenente-coronel Almeida Brito, decidiu efectuar um reconhecimento visual e levou como asa o capitão Pinto Ferreira. É o seguinte, o relato do então capitão Pinto Ferreira, testemunho fiável deste acontecimento:


“Encontrava-me no COAT, pelas 12h00 do dia 28 de Março de 1973, quando chegou uma mensagem da DGS dando conta de uma reunião de quadros do PAIGC em Madina do Boé. Fui imediatamente falar com o comandante do GO 1201, tenente-coronel Almeida Brito, comentando na altura que aquela informação me parecia ser uma armadilha.  No entanto, o tenente-coronel Brito optou por ir investigar com os aviões da parelha de alerta. Durante o briefing para a missão decidiu que iria sobrevoar, a baixa altitude, a picada que passa por Madina do Boé, no espaço entre o Che-Che e a base do PAIGC em Kambera, na Republica da Guiné. De facto, a haver uma reunião na zona de Madina do Boé, era provável que o caminho entre Kambera e Madina do Boé fosse utilizado, ou na ida, ou no regresso.
Tal como planeado, quando chegámos ao Boé, sobrevoámos para sul a estrada que vai de Che-Che até Kambera, o que me permitiu observar o cenário de várias viaturas militares destruídas, que  por ali ficaram depois da retirada da guarnição de Madina do Boé, em Fevereiro de 1969. Não foi detectada qualquer reacção do inimigo, mesmo quando sobrevoámos Kambera.
Depois deste ponto, iniciámos uma volta de 180º pela direita, novamente em direcção a Madina do Boé. À vertical daquela posição, quando voava a cerca de 500 pés sobre o terreno, fui surpreendido pela explosão do avião da frente, que seguia um pouco mais alto, cerca de mil pés, atingido por um Strela. O avião foi praticamente engolfado por uma bola de fogo, o piloto não se ejectou, e apenas um tanque externo de combustível se separou do conjunto.
Como já tinha tido alguns encontros com Strelas, reagi de imediato, submetendo o avião a Gs elevados e picando para junto do solo, durante alguns segundos. Subi depois, voltando pela esquerda, para cerca de oito mil pés, por forma a identificar o local do sinistro e informar as operações da Base do ocorrido. No entanto, devido à bruma existente, apenas me foi possível observar o fumo de um local, algures a norte de Madina, onde caíram os destroços do avião .”

Do lado do inimigo, o comandante do PAIGC Manecas dos Santos, responsável pela operação dos Strela, contou uma história algo diferente não só quanto ao disparo do míssil mas também quanto ao local onde os destroços do avião ficaram.
Recorde-se que, por volta de 1996, o ex-comandante da Ccaç 1790 [31], que foi a última unidade do exército que esteve destacada em Madina do Boé, colaborou na feitura de um documentário da SIC intitulado - "Madina do Boé- A Retirada".
Durante as filmagens desse documentário, o ex-capitão Aparício viajou, acompanhado do Manecas dos Santos, até ao local onde este disse que o avião do tenente-coronel Brito caíra, a cerca de 18 Kms a nordeste de Madina do Boé, o que parece demasiado. O ex-capitão Aparício teve então a oportunidade de fotografar o “quase nada” que restava do avião e ouviu da boca do Manecas dos Santos a seguinte descrição de como tudo se teria passado:
“Os aviões apareceram, um ficou mais alto e o outro desceu para observar um grupo de árvores mais altas que existiam no local. Foi disparado um míssil para esse avião que explodiu e se despenhou. Um segundo míssil foi disparado para o outro avião mas bateu no tronco de uma dessas árvores altas e perdeu-se.”
O Manecas dos Santos é certamente o melhor relator dos sucessos do PAIGC, decorrentes do emprego daqueles mísseis. É óbvio, porém, que não pode ter assistido à maior parte dos disparos visto que ocorreram em diversos pontos do território [32]. E quanto aos abates, será que assistiu a algum? Acredito que aquilo que ele conta neste caso foi-lhe transmitido através de uma cadeia de informação por voz, tendo-lhe chegado com todas as distorções imagináveis. Nem sequer refere Madina do Boé como tendo sido o local do disparo [33] e que é um elemento central neste caso.
Quanto à tese da armadilha, não há dúvida que esta missão de reconhecimento foi originada por uma informação da DGS revelando a ocorrência de uma reunião de altos quadros do PAIGC em Madina do Boé. Ora, acontece que o PAIGC mantinha uma base, a curta distância, em território da Guiné-Conacri, equipada com infra-estruturas para apoiar o treino da guerrilha e onde viviam assessores cubanos, entre outros. É pouco plausível que, sendo necessário fazer uma “reunião de quadros”, não a fizessem nesse local, em Kambera, e fossem para Madina do Boé onde não havia condições logísticas. O que temos a certeza é que, naquele dia, estava lá um grupo de mísseis, apesar de as nossas forças não efectuarem operações no Boé há anos.
Nada disto faz sentido a não ser que se tratasse de um plano para atrair aviões. O argumento da reunião passado à DGS terá sido o engodo. Por sua vez a referência a Madina do Boé é um elemento fulcral porque como o míssil era de muito curto alcance os aviões teriam de passar muito próximo daquele ponto [34] para serem atacados com sucesso pelo grupo que lá tinha sido posicionado. Pela descrição do então capitão Pinto Ferreira, penso que o grupo dos Strela estaria instalado no topo da colina adjacente ao antigo quartel, ou seja no Dongol Dandum. Era um ponto elevado e oferecia um campo de visão de 360º.  Os outros pontos altos nas proximidades encontram-se todos a distâncias superiores a 2.000 mts o que reduziria substancialmente as probabilidades de êxito.
Assim, tudo aponta para uma armadilha semelhante à da construção de um túnel à entrada do corredor do Guilege, em Julho de 1968. Neste caso, o comandante do GO 1201 escapou com vida mas cinco anos depois, em Madina do Boé, o tenente-coronel Almeida Brito já não teve a mesma sorte.


José Francisco Fernando Nico
General PilAv (Força Aérea) 


1] Série de artigos inicialmente projectada para ser publicada na revista Mais Alto da Força Aérea.
[2] Indicativo táctico do Centro Conjunto de Apoio Aéreo na Base Aérea nº12 (CCAA). Anos mais tarde passou a ser designado Centro de Operações Aero-Tácticas (COAT)
[3] Indicativo táctico do TCor Francisco Dias da Costa Gomes, na altura Comandante do Grupo Operacional 1201
[4] Missão de ligação e apoio logístico em proveito de um batalhão do Exército.
[5] Indicativo táctico do Cap Fernando de Jesus Vasquez,  Comandante da Esquadra 121 que  emitiu o alerta e que, na circunstância, era o asa do comandante do grupo.
[6] Indicativo táctico do autor do presente artigo.
[7] Na altura, a única directiva superior para a Força Aérea era uma nota da Secretariado Geral da Defesa Nacional (na Cova da Moura, em Lisboa), com umas poucas linhas de texto dando conta do emprego de armas antiaéreas pelo PAIGC, no Sul da Guiné, e que terminava com as seguintes palavras “…pelo que deve a Força Aérea proceder à sua neutralização.”
[8] O mais elevado nível de comando da Força Aérea no teatro de operações da Guiné.
[9] Pressupostos baseados na rotina diária das operações.
[10] ZASITREP 209/68 26JULHO
[11]  Anti-Aircraft Artillery
[12] QG do Comandante em Chefe
[13] Corredor do Guilege
[14] ZASITREP 210/68 27JULHO
[15] O enquadramento das operações antiaéreas pelos cubanos já está suficientemente recortado para se assumir que também participaram nesta acção. Por essa altura os apoiantes cubanos eram quase todos pretos para não se distinguirem facilmente no meio da guerrilha.
[16] Antiaérea(s)
[17] Sigla que designava uma acção de reconhecimento visual
[18] Estratégia desenhada pelo Comité de Descolonização da ONU, também conhecido como Comité dos 24. Como a estratégia não vingou o Comité dos 24 acabou  por decidir enviar, em 1972, três embaixadores que efectuaram uma passeata furtiva no Sul da Guiné e declararam depois ter estado em “zonas libertadas”. Foi com base nesse testemunho, claramente fabricado, que Portugal foi considerado ocupante ilegal do território o que criou as condições políticas para que , a seguir, em 24 de Setembro de 1973, o PAIGC declarasse unilateralmente a independência. Na prática a declaração unilateral da independencia não foi uma iniciativa do PAIGC mas sim um plano concebido e orquestrado pelo Comité dos 24.
[19] TGER: sigla para transporte geral que neste caso incluía tudo o que um batalhão normalmente necessitava distribuir pelas companhias. Normalmente era transportado pessoal, correio, víveres, munições, etc..
[20] As comunicações tácticas entre os G-91 eram efectuadas  em UHF, gama de frequências que não estava disponível nos outros tipos de aeronaves do GO1201.
[21] Informação do ex-capitão de Gandembel: Até Out68, todo o pessoal nativo que possuía pertencia ao Pelotão de Artilharia de Campanha (PelAC 55), de 10,5 cm, de recrutamento da província, comandado por um Alferes Miliciano.
[22] O ex-capitão de Gandembel estima que o piloto terá caído entre 500 a 600 mts para Oeste do aquartelamente mas penso que terá sido a uma distância menor.
[23] A pistola foi encontrada no dia seguinte pelos pára-quedistas  e deve ter saltado durante a ejecção. Naquela altura, na Guiné, ainda não tínhamos um sistema adequado para o armamento individual problema que mais tarde foi resolvido com a adopção de um colete de sobrevivência.
[24] Declaração do ex capitão de Gandembel: “O pessoal nativo que me acompanhou na tentativa imediata de resgate do piloto era apenas do PelAC. Tive de recorrer a este pessoal porque nesse dia quase toda a Companhia (inc. o Grupo do Alferes Reis) se encontrava em missão de segurança a uma importante coluna proveniente de Aldeia Formosa (Quebo). Pensei também que seria bom levá-los como pisteiros.”
[25] Indicativo táctico: Melro
[26] Conterrâneo e meu amigo que estava em Gandembel. Gravemente ferido em 26SET1968 e evacuado por ter pisado uma mina AP  junto ao pontão de Changue-Iáiá
[27] Este tempo de ida e volta naquelas circunstâncias  indica que a aterragem do tenente-coronel Costa Gomes ocorreu necessariamente muito próximo do quartel.
[28] Nos últimos trinta anos ouvi esta história inúmeras vezes contada sempre da mesma maneira.
[29] Capitão PilAv António Figueiredo Rodrigues – indicativo táctico “Puskas”.
[30] Metralhadora pesada 12,7mm fornecida  pela URSS e satélites ao PAIGC.
[31] TCor Infantaria Ref José Aparício
[32] Entre 20 e 28 de Março de 1973 foram efectuados diversos disparos de Strelas em áreas tão distintas como Campada e Bigene no Norte, Guilege no Sul e Madina do Boé no Leste. Isto mostra que existiam diversos grupos de Strellas a operar ao mesmo tempo e o Manecas não pode ter estado em todos eles. Aliás, numa entrevista ao jornal Expresso, afirmou que estava no grupo que abateu o 1º avião, em 23 de Março de 1973, na zona de Cumbamori, portanto muito distante de Madina do Boé. Além disso, como é bem sabido, o 1º avião não foi abatido no dia 23 mas sim no dia 25 de Março, próximo do Guilege e não na zona de Cumbamori. 
[33] O testemunho do ex-capitão Pinto Ferreira é esclarecedor.
[34] O míssil tinha um alcance máximo de 4.300 mts e voava a 440mts/s. No caso do G-91, se entrarmos em linha de conta com a velocidade normal  durante o afastamento, que era sensivelmente de 154 mts/s, então o míssil só seria eficaz se disparado com o alvo  num raio de 2.800 mts.