sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Voo 3238 O HENRIQUE ESPADA PARTIU PARA O ÚLTIMO VOO:










Henrique Vasco Medina Espada
Esp.Melec/Centrais
Las Palmas
Canárias





Companheiros

É com grande consternação que  participamos o falecimento do nosso querido AMIGO Henrique Espada.
Foi casualmente no Faceboock, que lemos, de uma amiga sua, uma mensagem recordando as suas gargalhadas e lamentando a perda.
No intuito de saber a veracidade da triste notícia, contactei a referida senhora que infelizmente me confirmou o falecimento do Espada no passado dia 26,véspera do seu aniversário.
Quem esteve na Guiné, certamente que ainda se recorda dos grandes momentos que passamos comendo ostras na Casa Espada, propriedade de seu pai.
Este nosso  saudoso AMIGO vivia nas Ilhas Canárias á muitos anos.
Em nome de toda a Tertúlia “Linha da Frente” endereçamos á família os nossos sentidos pesamos.
Que a nossa padroeira,Nª.Srª.do Ar o acompanhe neste seu último voo.

Voo 3237 COMO É FÁCIL VOAR...



Aeroclube de Viseu




De 1 a 9 de Novembro, o Aeroclube de Viseu estará no Palácio do Gelo, em Viseu, com nova exposição de divulgação! Venha conhecer-nos melhor e saber como é fácil e acessível VOAR




quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Voo 3236 Á COISAS QUE SÓ VISTO







Carlos Robalo
Esp.MMA
Lisboa




Era precisamente 8 de Maio de 1972,quando um rapazinho, vindo directamente da noite...
Vamos lá então recordar a ida para a Guiné.
Dia 7 de Maio de 1972,com alguns companheiros e amigos, fomos fazer a despedida da vida boa passada em Lisboa,(estava na altura colocado no AB1,Portela,na manutenção dos DC6"VACA").Vestido á civil passei a pente fino, quase todos os bares de Lisboa, comendo e bebendo passando pelo Bairro Alto e Caís do Sodré como era apanágio de uma despedida.
Já era de madrugada o Sol estava quase a romper, quando me lembrei que tinha de estar fardado e (normal)na sala de embarque em Figo Maduro, fui directamente a casa tomar um banho e fardar-me.


Quando cheguei á Base com as respectivas malas, já o DC6 estava a rolar no "taxiway",entrei em pânico porque era considerado refractário,mas com a varinha da sorte, o oficial de dia ás operações, entrou em contacto, via rádio, com o comandante do dito DC6, contando o sucedido e solicitando o meu embarque. O comandante respondeu dizendo que voltar para trás nunca, mas que me desenrascasse que ele colocava os motores ao "ralenti" para eu poder entrar. Assim foi, um colega disponibilizou-se a ir buscar um PAT-PAT e fui içado por colegas juntamente com as malas para dentro do avião.
É esta a minha partida para a Guiné.
Bastante original!!!

Até breve,

CROBALO

PS:Já agora, para completar, se a minha memória não me atraiçoa, fui substituir o Estevens, será?





terça-feira, 28 de outubro de 2014

Voo 3235 AS OBRAS DE ARTE DO SIX (31)






António Six
Esp.MRádio
Pontével






Tendo em vista a substituição dos velhos DH-82 Tiger Moth, a Aeronáutica Militar (AM) adquiriu em 1951 ,dez aviões De Havilland DHC-1 Chipmunk T-20 construídos na Grã-Bertanha. Por certo que foram das primeiras aeronaves matriculadas segundo o novo sistema de matriculas implementado em 1951,recebendo a numeração de 1301 a 1310,que correspondia aos constructor number C1-0250,C1-0261,C1-0280,C1-0286,C1-0292,C1-0298,C1-0299,C1-0346,C1-0351 e C1-0365. Foram colocados na Base Aérea nº 1(BA1),Sintra. Estes Chipmunk tinham um sistema de arranque do motor por cartucho explosivo.
Inteiramente pintados em alumínio (FS 17.178),com a parte superior da fuselagem à frente da cabine em preto anti-reflexo (FS 37.038),ostentavam a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, em ambos os lados das asas e as cores nacionais, sem escudo, num rectângulo no estabilizador vertical.
Ainda que destinados á instrução, eram usados em voos de ligação e treino de pilotos.
Em 1952,pouco tempo após a chegada a Portugal, os dez DHC-1 Chipmunk foram absorvidos pela Força Aérea Portuguesa (FAP),que manteve as matrículas de 1301 a 1310. É também em 1952 que as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico(OGMA),Alverca obtêm a licença de construção  dos Chipmunk, dando inicio á produção ainda nesse ano, construindo o total de 66 unidades, tendo a última saído da linha de montagem em 13 de Fevereiro de 1961. Receberam as matrículas de 1311 a 1376, a que correspondiam os constructor number OGMA-01 a OGMA-66. Nos aviões de produção nacional o sistema de arranque do motor por cartucho explosivo foi substituído por motor de arranque eléctrico.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Voo 3234 "OS HOMENS NÃO MORREM"

Mário Gaspar
Fur.Mil.Exércº



Caro Camarada,

        
 Eu, Mário Vitorino Gaspar, Ex-Furriel Miliciano, Atirador de Artilharia e com a Especialidade de Minas e Armadilhas da Companhia de Artilharia 1659 – CART 1659 (ZORBA), com o lema “Os Homens não Morrem”, fiz a Comissão de Serviço Militar em Ganturé e Gadamael Porto, na Guiné de JAN67 a OUT68. 
         Convido-te a estares presente na Apresentação do meu Livro "O Corredor da Morte" de Mário Vitorino Gaspar, no dia 28 de Outubro pelas 15H00, no Auditório Jorge Maurício da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), no Edifício ADFA na Avenida Padre Cruz, em Lisboa, após o Estádio do Sporting de Portugal e depois do Instituto Ricardo Jorge.
        
         Nesta Apresentação  
         Composição da Mesa:
            – Preside a Mesa o Presidente da Direcção Nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), Comendador José Eduardo Gaspar Arruda;
            – A Apresentação do Livro vai ser feita pela Professora Ermelinda Caetano e
            – Mário Vitorino Gaspar como Autor do Livro.
No Capítulo do Livro: “9. O Rebentamento Durante o Batuque”, o autor descreve este trágico atentado contra a população. Viveu de perto, e continua a rever este drama e descreve-o com o coração. Para quem tenha dúvidas:  

Na História da Unidade consta:   

“Não queremos também deixar de assinalar neste Relatório um facto que nos causou profunda impressão e desgosto, já pelas consequências que dele resultaram, já porque apesar de todos os esforços desenvolvidos pelas autoridades e civis, não lográmos vê-lo esclarecido inteiramente para apuramento das responsabilidades e aplicação da Justiça. Trata-se do atentado cometido em Ganturé, contra a população, em 4 JUL 67, através do lançamento de uma granada que explodiu durante um batuque de que resultaram dez mortos e cerca de vinte feridos”.


O que se encontra aqui descrito pode ser lido na História da Unidade – da Companhia de Artilharia 1659 – CART 1659

Arquivo Histórico Militar – Largo dos Caminhos de Ferro
1100-105 Lisboa
Telefone Civil: 218 842 566

domingo, 26 de outubro de 2014

Voo 3233 12º ENCONTRO DO NÚCLEO DO MINHO DA AEFA.






Manuel Pais
Esp.EABT
V.N.Gaia




Companheiros

O Núcleo do Minho da AEFA, como já é tradição levou a efeito o seu 12º ENCONTRO REGIONAL com toda a pompa e circunstancia , proporcionando aos Especialistas suas famílias e Amigos um agradável convívio .Aos Dirigentes do Núcleo os nossos parabéns
Um abraço.
Manuel Pais










quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Voo 3232 A MINHA IDA PARA A GUINÉ.






Manuel Lanceiro
Esp.MMA
Lisboa





Amigo Barata, cá estou a participar.
Apesar de ser da 3ª/69,fui parar à Guiné já com três anos de Força Aérea. Cheguei a 14 de Outubro de 1972,um sábado (que porra de dia para chegar à guerra),juntamente com o Eduardo,Teixeira,Rei e o "velhinho"José Luís Antunes, mais conhecido pelo "Tónio",entre outros.

Mal tinha desembarcado e ainda à espera das malas,apareceu-me um Zé,pequenino,louro,bigode,dentro de um fato de voo enorme para o tamanho dele,absolutamente doido aos saltos e a dizer,sou o Cunca e tu és o meu "pira"*,venho-te ajudar a levar as tuas coisas.
Chegaram as malas e lá fomos nós para a Base.
É fácil, para quem lá esteve, a adivinhar o que aconteceu, a bebedeira foi tão grande que nessa noite dormimos os dois sentados na cama dele,pois eu tinha-me esquecido de arranjar uma.
Eu e o Teixeira,já tínhamos o destino traçado,linha da frente dos Alloute III,o Serra foi para a manutenção,o Rui foi para o Gabinete do Ten.Glória e o Antunes(Tóino)foi para a linha das DO 27.
Nas duas semanas seguintes, eu e o Cunca fomos inseparáveis, até porque, ele para se vir embora tinha que me largar.
Todo o Whisky que o Cunca tinha guardado para trazer,foi bebido até à última gota da última garrafa.
Nestas duas semanas o Cunca preparou-me para o que me esperava e regressou à sua casa.
Nessa manhã,a bebedeira era maior que ele!
Todos os anos,no nosso almoço de Pessoal da BA 12,tenho o prazer de estar com ele e de bebermos um copo.
E foi assim o inicio da minha "AVENTURA GUINÉ 72/74".

FORAM:

-22 Meses do melhor da minha mocidade.
-Muitos amigos.
-Muitos copos.
-Muitos bons bocados.
-Muitos sustos.
-Grande privilégio de fazer parte da família "ZÉ ESPECIALISTA"
-Muita honra de pertencer à Esquadra 122
-Um orgulho enorme de ser da linha frente dos "Canibais"


Um abraço.
Lanceiro

*PIRA” Designação dada aos recém chegados à Guiné.

VB- Obrigado Lanceiro por esta bonita mensagem que nos enviaste, só podia ser tua,és,como sempre o foste, (e não precisas de o dizer),um VERDADEIRO ZÉ ESPECIAL.


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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Voo 3231 QUARENTA E CINCO ANOS DEPOIS.








Victor Barata
Esp.Melec./Inst./Av
Vouzela




Companheiros,
Faz hoje precisamente quarenta e cinco anos (45) que com dezoito anos de idade deixei a casa dos meus pais para me dirigir á estação de Stª Apolónia, em Lisboa, com a finalidade de tomar o comboio que me levaria até V.F.de Xira, conforme a guia de marcha que dias antes me foi entregue pelo DRM (Distrito de Recrutamento e Mobilização 1),penso assim se designar á época o serviço que superintendia esta área.
Ali chegado, aguardava-me os autocarros da Base Aérea nº 2 que nos transportou até aquela unidade.
O trajecto foi feito sempre na expectativa do que ia encontrar, pois não tinha noção alguma sobre o local onde iria iniciar a minha vida militar,
Porta de Armas da BA2!
Que mundo estranho,os militares de serviço olhavam-me como querendo dizer “ Anda cá recruta,aqui é vais ver o que é vida.”
As boas vindas foram  dadas pelo barbeiro,máquina 0 e…tudo o barbeiro levou!
Nunca me tinha visto com este novo visual,se não era bonito,até fiquei com algum receio que a “miúda” me despacha-se logo no primeiro fim de semana que me visse.
Seguiu-se a distribuição de fardamento. Camisa de popeline azul (Linda,ainda hoje gostava de ter uma.),fatos de macaco,farda de saída (pelo de rato) sapatos e meias. Tudo isto acompanhado por um sobretudo que tinha o tamanho XXXL !
O grande momento,a confraternização de todos que a partir daquele dia irão fazer uma vida em comum durante três meses no mínimo.
Valeu a pena Companheiros.
Obrigado a todos vós que me ajudaram a ser o HOMEM que  hoje me orgulho de ser.

Um abraço.

Victor Barata 

domingo, 19 de outubro de 2014

Voo 3230 10º ENCONTRO DO NÚCLEO DE LEIRIA DA AEFA.






Manuel Pais
Esp.EABT.
V.N.Gaia




Boa tarde Estimado Amigo
A Comissão de gestão do Núcleo de Leiria da AEFA , liderada pelo nosso Amigo F. Marcelino , em cumprimento da orientação da D:N  , levou a efeito o ato Eleitoral para escolher a equipe para orientar os destinos do Núcleo nos próximos 2 anos . A lista única que se apresentou a sufrágio liderada pelo Marcelino, acabou por ser Eleita e assim iniciar um novo ciclo para acompanhar a renovação  e a estabilidade que a D.N pretende colocar no terreno para bem dos Especialistas .




Seguiu-se um almoço convívio que decorreu em restaurante próximo que decorreu em ambiente sereno e de grande elevação para todos os presentes.
Ao Marcelino e seus colegas os meus mais sinceros Parabéns e votos de um bom trabalho e que estas ocasiões de convívio se repitam , para que possamos rever amigos á muito afastados.
Um abraço

Manuel Pais

Voo 3229 AS OBRAS DE ARTE DO SIX (30) - LOCKHEED T33






António Six
Esp.MRÁDIO
Pontével



Lockheed T 33

 Com este avião estamos a voar mais rápido, com isso não quer dizer melhor, mas podemos sonhar também mais rápido. 
Este desenho é propriedade do meu amigo José Osório..
Espero que seja do vosso agrado e que tenham muitos bons voos

Six

Voo 3228 A NOSSA BASE AÉREA 12...BISSALANCA...






Joaquim Guiomar
2ºSargº.Mil. Melec/Centrais
Moita





Companheiro,recordo de novo, aqueles anos de 72/74 com muita saudade.
O facto de Abílio se ter lembrado de ir pesquisar no Google Heart o local onde nós passamos dois longos anos da nossa vida, levou-me, também, a procurar esse programa e fazer uma busca á zona de Bissalanca com mais pormenor.


Fiquei deveras espantado, pois aquilo está cheinho de casas, pelo menos parecem telhados normais sem serem de palha como as tabancas...e lá a estrada que liga a zona do aeroporto á cidade é que parece em melhores condições que naquela altura, o hospital,etc...
Era em Safim que nós íamos apanhar umas valentes "bezanas",camarões, travessas de ostras e aquele frango assado acompanhado por um molho picante que até os olhos saltavam das órbitas e, claro, o único extintor possível para apagar todo aquele fogo,eram as fresquinhas...Depois podemos "visitar"os locais onde vivemos com aquele pormenor...os quartos onde dormíamos, a parada,o local de trabalho, as massas, a porta de armas, bom, não dá para explicar...Pareceu-me que não existe separação entre a base e o que eram as instalações do BCP(Batalhão de Caçadores Paraquedistas)...Dantes existia uma rede,que facilmente se transpunha para ir ao cinema entre outras coisas...Grande ideia que o Abílio teve...!A mensagem do Condeço tocou-me porque eu conheci-o, ele não se deve lembrar de mim porque eu estava no BCP mas, eu lembro-me dele até porque, tinha dois amigos Furriéis MMT,o Ferreira e o Z´David e convivíamos. Além disso tínhamos aqueles encontros no clube de sargentos, em Bissau, ao final da tarde e pela noite fora que eram uma delicia...Muito raramente esqueço uma cara e quando se trata de um ex-companheiro da FAP,então fica gravada para toda a vida.
Todos os dias faço uma visita ao Blog para ver o que há de novo e á espera de encontrar novas mensagens e fotos dos nossos Zés...
Grande abraço para todos.
Guiomar

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Voo 3227 " DISSE Á MINHA MULHER: NÃO TE PREOCUPES QUE QUALQUER DIA VOLTO"






Fernando Moutinho
Cap.Pil.Av.
Alhandra




Morreu o comandante Alpoim Calvão. Soube da sua morte através do António Lobato, o piloto que passou mais de sete anos preso na Guiné Conakry e que foi libertado na Operação Mar Verde. Facto que, durante anos, não pôde contar ninguém. Parece-me uma boa altura para recordar a história do António Lobato, o primeiro piloto português a despenhar-se na Guiné, e a sua aventura até à libertação. O testemunho dele faz parte do livro Dias de Coragem e Amizade. A fotografia é do Rafael G. Antunes.

“Disse à minha mulher: não te preocupes que qualquer dia eu volto”

Nunca tinha saído de Portugal. Quando começaram a pedir voluntários para a Guiné, ofereci-me. Estávamos em 1961. Cheguei lá a 26 de Julho e não estava à espera do que ia encontrar. Depois de uma viagem de 11 horas, com paragem em Las Palmas, o avião fez escala em Bissalanca para me largar e a outro colega, antes de seguir para Cabo Verde. Na descida comecei a sentir um calor enorme e cheguei a pensar que o avião ia arder. Mas não. Era do clima. Lá em baixo, o aeroporto era um bocado de asfalto no meio de capim com dois metros de altura. Estava escuro como breu e, além de uma casinha com uma suposta torre, não havia mais nada. Nem sequer Meia hora depois de chegarmos lá apareceu um rapaz, radiotelegrafista, que só lá estava porque de vez em quando passavam por ali os P2V5 que saiam do Sal. Ele sabia que íamos chegar e foi buscar-nos num jipe. Apresentou-se e levou-nos para Bissau. Só havia um hotel na cidade – que estava cheio, tal como todas das pensões porque o pessoal tinha saído todo do mato e queria ir embora. Acabámos por dormir num colchão no chão do quarto dele. No outro dia corremos a cidade à procura de outro sítio e não conseguimos nada.
À hora de almoço sentámo-nos no café Portugal a beber uma cerveja. Foi a primeira vez que vi uma de litro e meio. Estávamos a conversar quando um senhor que estava na mesa do lado nos interrompeu e perguntou se éramos da Força Aérea. “Ouvi a vossa conversa, estão aflitos? Quando acabarem de beber têm disponibilidade para vir comigo?” Dissemos que sim, e seguimo-lo em direcção a uma vivenda ao cimo da avenida principal, onde ele nos explicou: “Sou reitor do liceu, mas vou-me embora para a semana. Já mandei a família para Portugal.” Deu-nos uma chave a cada um e foi assim que arranjámos alojamento. Ficámos ali uns dois ou três meses.
Depois fomos apresentar-nos ao palácio do governo. Como todas as semanas havia um avião para transportar as pessoas que queriam vir embora e não havia controlo ele pediu-nos para tomar conta dos embarques. E assim foi. Havia quem nos oferecesse dinheiro para passar à frente das listas. Recusávamos sempre e no final dos embarques íamos levar um saco cheio de notas ao palácio. Aquilo funcionou assim.
Passados três ou quatro meses lá apareceram dois aviões empacotados no porto de Bissau. Como, entretanto, tinham chegado dois mecânicos, combinámos ir buscar um para o montar só com as ferramentas que eles tinham na mala. No final, faltava uma chave grande para colocar a hélice. Fomos às oficinas navais e o mecânico fez-lhes o desenho do que precisava e eles fizeram uma. Foi assim que começámos a voar para conhecer o território porque as cartas que tínhamos não tinham cores. Fomos nós que as colorimos com lápis.
Na época não tinha a noção de que aquela seria uma guerra prolongada. Começou suavemente e foi aumentando. A 22 de Maio de 1963 saí para uma operação na ilha de Como. Supostamente, nem devia ter ido. Tinha chegado de Cabo Verde na tarde do dia anterior e entrei na sala de operações quando estava a haver um briefing. Como faltava um piloto, ofereci-me para ir no lugar dele. Estava a um mês de acabar a minha comissão.
Ao chegar ao objectivo senti qualquer coisa no avião. Devo ter sido atingido por uma bala. Disse ao meu asa que ia sair dali e pedi-lhe que se pusesse debaixo de mim para ver se havia algum dano na zona do trem de aterragem. Foi o que ele fez. Mas quando temos outro avião por cima é preciso cuidado para não sermos sugados. Não sei se foi por falta de experiência, distracção ou apenas por estar a olhar para cima, mas, quando dei por isso, ele estava a passar-me à frente, encostado ao motor. O avião começou a tremer e tive de o desligar. Ainda lhe dei dois ou três gritos para que endireitasse o avião mas ele foi a pique e lá ficou.
Vi uma clareira e não me ejectei. Achei que era capaz de lá meter o avião. Aquilo era um campo de arroz e ao aterrar as saliências das metralhadoras e dos rockets encaixaram nos sulcos e as duas asas saltaram como se fossem arrancadas à mão. A fuselagem deu duas ou três cambalhotas e saí de lá ileso. Só tinha o relógio esmagado. Olhei à volta e vi um grupo de indígenas a uns 50 metros a olhar para mim, espantados. Fui direito a eles. Estavam todos de catanas na mão. Sabia que Catió era numa determinada direcção e perguntei se algum me podia indicar o caminho que, quando lá chegasse, até lhes pagava.
No topo da clareira havia uma aldeia escondida. Caminhámos para lá, a conversar. Mas antes de chegarmos, levei uma catanada que me abriu a cabeça ao meio. Sem dizerem mais nada caíram todos em cima de mim. Arranjei forças não sei onde e consegui fugir para o mato. Ainda estive uns 10 minutos escondido. Atei um lenço à cabeça para tirar o sangue dos olhos e fiquei à espera. Houve um que apareceu. Ficámos a olhar um para o outro. Eu pequei na minha faca de mato e levantei-a. Ele disse: “Dá a faca”. Nestas alturas há alguma coisa que nos diz como devemos decidir. Sei que a virei e atirei-a. Ele de um grito e lá veio a outra rapaziada toda. Saímos do meio das lianas e voltaram a dar-me uma série de catanadas, uma delas nas costas. Ainda estão marcadas. Depois levaram-me para aldeia. Pelo caminho foram-me tirando a roupa, anéis, o fio que trazia ao pescoço. Estavam a preparar-se para me linchar quando chegaram dois guerrilheiros. Foi a minha sorte.
Mandaram-me sentar e perguntaram-me o que se tinha passado. Depois disseram-me para descansar porque íamos partir à noite. Antes quiseram saber se tinha fome. Depois mandaram os aldeões subir a uma mangueira e eles começaram a atirá-las cá para baixo. Nunca comi tantas mangas na vida. Foram dezenas. Tinha perdido imenso sangue. Logo depois, adormeci. Só acordei à noite, quando me chamaram. Andámos a pé uma semana até chegarmos à zona onde estava o Nino Vieira, que era o comandante da zona sul. Ele disse-me que tinha tido sorte: a ordem do Amilcar Cabral para fazer prisioneiros só tinha chegado há 15 dias. De qualquer forma tinha poder para me fazer o que quisesse. Perguntou-me:

- Tens família?

- Tenho.

- Queres escrever-lhe uma carta?

- Para quê? Isto nunca mais lá chega.

- Como quiseres.

Depois tirou um bocado de papel e uma caneta e deu-mas. A minha mulher tinha vindo para a Guiné em 1962 e resolvi escrever umas oito linhas a dizer: “Não te preocupes que qualquer dia eu volto.” E um mês depois ela recebeu-a. Por volta das 22h, um guerrilheiro entrou-lhe em casa, em Bissau, cansadíssimo. Perguntou-lhe se tinha leite, bebeu uns dois litros e entregou-lhe a carta.
Nessa altura já devia estar na Guiné Conakry. Fui num barco que eles apanharam à Casa do Comércio, o Bandim, para Vitória. Estava lá um curandeiro que decidiu tratar-me. Tirou-me o lenço e lavou-me a cabeça com álcool ou qualquer coisa parecida porque isto nunca mais sangrou. Nas costas ainda tinha um golpe aberto por uma catanada. Disse-me: “Vamos coser isto”. Deitou-me numa marquesa e deu-me uma garrafa de vinho para custar menos. Bebi. Era bom, português. Ele lá me coseu com uma agulha de coser sacos. Chega-se a um ponto na dor em que já não se sente nada, passa-se para o outro lado. O certo é que aquilo resultou. Nem sequer infectou.
Levaram-me para Conakry, onde chegámos a um domingo. Estava tudo fechado. Passei a noite numa cela imunda do comissariado da polícia e só no dia seguinte foram buscar-me para responder a umas perguntas. Queriam que fosse à Rádio Argel dizer que aquela era uma guerra injusta e não sei que mais. Prometeram-me que ia para um país de Leste e tudo. Disse que não. Identifiquei-me e pronto. Fiquei ali mais 15 dias até me meterem num carro e arrancarmos para a prisão de Kindia, 150km para o interior, onde fiquei os seis anos seguintes.
Estava numa cela de três metros por dois. Sozinho. Comecei logo a planear uma fuga. Anos depois, graças a um guinês cheguei a ter três ferros da grade cortados. Ele era funcionário do tesouro antes da independência e depois continuou nas mesmas funções. Só que em vez de enviar o dinheiro para contas da Guiné em França, mandava para a dele. Ele tinha estado no Brasil e falava português. Odiava aquela gente toda. Através da mulher, que ia visitá-lo de 15 em 15 dias, ofereceu-se para enviar notícias para cá. Conseguiu passar-me papel e lápis por baixo da porta e eu escrevi. As cartas iam para uma irmã dele na Guiana Francesa e daí para Portugal. Acabei por receber um livro que pedi à minha mulher, fiz um código com base nele – uma página era uma letra – e continuei a mandar informações. A mulher trouxe-me uma serra de cortar ferro e estive meses a cortar as barras, à noite, até ser apanhado.
Aquilo tinha 400 prisioneiros de delito comum, que faziam trabalhos forçados todos os dias. Nunca lá entrou um médico. Eu era o único branco. Ao fim de dois anos comecei a ir ao recreio por uma hora, mas sozinho. Nunca me bateram, nem quando me apanharam a tentar fugir. Insultaram-me e mais nada. Até quando as nossas tropas entraram na Guiné Conakry foi lá um ministro que mandou abrir a porta, mas só para me insultar. A certa altura chegou lá um soldado português que, ao fim de um ano e meio e foi libertado através da Cruz Vermelha. Quando cá chegou disse à minha mulher que eu nunca mais de lá saía porque dizia que, quando isso acontecesse, os bombardeava. Não era nada, mas ele disse isso.
Depois chegaram mais dois, que ficaram comigo um ano. Nos primeiros tempos não podíamos falar. Eles estavam numa cela, eu na outra. Fazíamos sinais. Quando passaram a deixar-nos ir juntos ao recreio começámos a planear uma fuga. Isto ao fim de seis anos. Começámos a ver que havia certas rotinas. Os guardas deixavam a cela aberta para um pátio e à noite e havia um grupo que ao dar-nos o prato de arroz nem olhavam lá para dentro. Um dia, não voltámos à cela. Entrámos para dentro de um depósito de água e ficámos à espera da hora da prece – quando também começava a anoitecer. Nessa altura saltámos dali para fora e andámos oito dias pelo mato a alimentar-nos de tudo o que aparecia.
Uma noite, tivemos que andar m bocado pela estrada porque não tínhamos outra hipótese. Meia dúzia de quilómetros depois apareceram uns 10 tipos enormes, sem armas, todos vestidos de branco, de saia até aos pés. Eram Fulas.

- Portuguesi?

- Não

- Ahhh portuguesi. Vamos embora.

- Não, não.

- Ahhh portuguesi, está tudo bem.

Chegámos a uma aldeia e nem se preocuparam connosco. Foram rezar e as mulheres encheram umas cabaças de arroz e carne. Chamaram-nos para comer e nós lá fomos. Depois levaram-nos para uma cidade onde havia polícia. O militar perguntou-nos: “Vocês fugiram, tudo bem, é esse o dever de um prisioneiro. Não há problema. Mas vão ter de me dizer como conseguiram.” Respondi-lhe que era “mezinha de branco”. Até hoje não sabem como escapámos.
Quando chegámos à prisão, tinha o director na minha cela. Estava ali porque se eu não aparecesse ele tomava o meu lugar. Era assim. Passados uns dias os homens do PAIGC levaram-nos para Conakry, onde estavam mais de 20 prisioneiros nossos. Se não tivéssemos tentado escapar se calhar não tínhamos ido para lá e acabávamos por não ser libertados: a operação Mar Verde foi nesse ano.
A altas horas da noite começámos a ouvir tiroteio que se afastava e aproximava. A dada altura caiu uma bujarda em cima da prisão. Deitei-me encostado à parede até alguém abrir um rombo na parede e gritar “Lobato”. Era o tenente fuzileiro Cunha e Silva. O instinto fica tão apurado que parece que vemos e adivinhamos tudo. Perguntou-me pelos outros que estavam na outra ponta da prisão. Foram buscá-los e continuámos direito aos barcos.
Quando cheguei a Portugal só pude ver a família ao fim de oito dias. Fui levado para Caxias e fiquei guardado por dois pides. Não se podia divulgar que tínhamos estado em território da Guiné Conakry. Antes de ir à televisão tive de assinar um papel a comprometer-me em dizer que tínhamos fugido. Os ministros foram ver a gravação e depois de confirmarem que estava tudo bem é que me deixaram ver a minha mulher. Tinham passado mais de sete anos.”

Texto: Extraído do livro de Maj.Pil.Av. " Dias de Coragem e Amizade"
Foto;Autoria de Rafael G. Antunes.

Voo 3226 VAMOS VOAR ATÉ Á NOSSA BASE.






Caros Companheiros.
Antecipadamente as nossa desculpas pela inoperacionalidade da nossa Base.
As férias, uma baixa á enfermaria de um elemento do comando, casamentos de filhos, a falta de pessoal a não voar para estes lados , foram de facto os principais responsáveis pelo sucedido.
Não acabou!
Dificilmente isso acontecerá.
Por aqui vamos voltar á normalidade e solicitar aos nossos Operacionais que, pelo menos, uma vez por semana ,vão voando até nós.
Deixamos  um desafio para nos debruçar-mo-nos sobre alguns temas que fazem parte da nossa história que seria agradável recordar, nomeadamente:

- A minha mobilização para o Ultramar (quando, onde, o que sentiram, impacto pessoal e familiar...)
- A minha viagem e chegada à Unidade Ultramarina (como, quando, impacto da chegada, com quem, substituir quem, colocação em que esquadra, praxes...)
- O meu dia-a-dia na mesma (Em Serviço e tempos livres)
- Como era a manutenção da minha Esquadra.
- Como era a linha da frente da minha Esquadra.
- Amizades ou episódios marcantes durante a comissão de Serviço.
- Visitantes especiais.
- Ligações, contactos ou operações com outros ramos (Páras, Marinha, Fuzileiros, Exército, Comandos, Rangers...)
Nós vamos continuar a trabalhar em conjunto no sentido de  manter esta unidade  em permanente actividade ,como é seu lema, mas contamos com a vossa colaboração
Saudações Especiais

João Carlos Silva
Mário Aguiar

Paulo Moreno
Victor Barata