quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Voo 3019 FOI 62 ANOS O MEU BAPTISMO...DE VOO!






Fernando Moutinho
Cap.Pil.Av.
Alhandra




Como foi o meu primeiro voo de Hurricane .
Diga-se, antes de mais, que tendo feito o meu "baptismo de voo" em 9 de Janeiro de 1952, num Tiger Moth com a matrícula 139, comecei a voar, na altura, num avião denominado Harvard, o nº 1613, no dia 3 de Junho do mesmo ano e, finalmente, a 3 de Setembro efectuei o 1º voo no Hurricane nº 600 .
Naquele tempo, as coisas não eram feitas com o rigor e o profissionalismo de
hoje, eram o paradigma d o "desenrascanço". Assim, deram -me 3 páginas de papel de stencil com uma breve descrição do avião mas, nada ou quase nada sobre o comportamento do avião.
Falava na velocidade de perda com trem e flaps em baixo e com o avião limpo e,
ainda, nos limites do motor com algumas referências a regimes de cruzeiro e subida, etc.
Na véspera do voo, um instrutor levou -me a sentar no cockpit e indicou -me como fazer um arranque, como funcionava a alavanca do trem e dos flaps (era a mesma), dos travões (pneumáticos), rádio e alguns conselhos mais. Depois, disse -me para continuar sentado a memorizar as explicações e respectivo cokpit.

Dia seguinte, o primeiro voo.
Pela primeira vez coloquei o "mae-west" (colete salva -vidas), o passe -montanha com os óculos facetados e a máscara de oxigénio. Novidades estas que , associadas ao accionamento do comando da rádio, uma pequena patilha na frente da máscara, e com a cabine tipo vidros de janela, me deram uma sensação de estranheza e irrealismo que se acentuou quando após o ”pôr em marcha”, teria de fazer uma rápida rolagem, de acordo com as recomendações , para evitar o perigo de aquecimento do glicol do sistema de refrigeração do motor.
Lá fui até ao princípio da faixa, consegui obter autorização da Torre, alinhei acelerei o motor, mantendo a direcção e, …no ar. Como? Não sei! Motor para a frente, olhos na velocidade, tirar o avião do chão, recolher o trem e flaps foi uma acção automatizada. Já no ar, seguindo as recomendações, reduzi um pouco o motor e observando a velocidade, comecei a subir. Num ápice, tinha atingido 16.000 pés. Foi quando comecei a tomar consciência do se que se estava a passar. Nunca tinha estado tão alto. Reduzi o motor, respirei fundo várias vezes e,que fazer? Principal preocupação, teria de aterrar . Mas, antes, precisava de fazer algumas manobras para sentir o avião,incluindo perdas e “compreender” a máquina.
Entretanto fui descendo para 12.000 pés circulando sobre a Base pois não queria perder o campo de vista, tendo iniciado várias manobras para experimentar os comandos, reacção do motor e as referidas perdas para sentir confiança na aterragem. As primeiras sensações foram de admiração por ter nas mãos um avião tão dócil mas ao mesmo tempo com garra. Aquele motor era uma maravilha. Que belo ronronar! Por fim, tive de me deixar de devaneios e pensar em aterrar. Assim o fiz. Não me pergunte como? Pois correu tudo muito bem. Sinceramente, só dei por mim a tocar o solo e a preocupar -me em manter a direcção, em virtude da dificuldade em se ver para a frente (não esquecer que tinha roda de cauda). Rolagem rápida. Estacionamento e, um acordar maravilhado pelo que tinha vivido. Tinha m passado 40 minutos.Foi a prova mais complexa de toda a minha vida de piloto. Ficou -me bem gravada mas, valeu a pena! Bons tempos!Não me considero herói. A prova é que não fui só eu que passou esse teste, todos os outros meus colegas de curso o passaram.

Um abraço

VB: Parabéns Mestre Moutinho!
É com muito orgulho e emoção que o felicitamos nesta data que assinala o seu 62º aniversário sobre a data do seu BAPTISMO DE VOO”!
Comemorar este dia,com 82 anos de idade e a humildade que o caracteriza…só um MESTRE!
Que Deus o mantenha na nossa família mais alguns anos com saúde ,para nos continuar a ministra essas preciosas aulas sobre essa disciplina que cada vez teima mais em desaparecer em alguns Companheiros.  
Obrigado MESTRE


Moutinho

1 comentário:

  1. Que delícia de descrição. Que tempos tão diferentes dos actuais. Que sorte termos connosco este companheiro, cheio de saúde, para partilhar as suas aventuras e encantar-nos com a sua experiência.
    Parabéns companheiro Moutinho.
    Ficamos a aguardar mais estórias dum grande senhor que apesar da sua enorme estatura é de uma humildade impressionante. Um abraço

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