sábado, 30 de julho de 2011

Voo 2423 O BAPTISMO DE FOGO.




António Loureiro
Fur.Mil.PA
Figueira da Foz.



Dá-me licença senhor Comandante
Desculpem o disparate


BAPTISMO DE FOGO

Que bom que deve ser uma pessoa passar a vida profissional a fazer uma coisa que efectivamente gosta, eu, infelizmente, não tive esse prazer e agora também já não vou a tempo, estou reformado.
Desde sempre que, ao invés de outros, embora respeite mas não lhe gabe o gosto, sempre tive uma predilecção especial pelas humanidades em detrimento do fundamentalismo dos números que, para mal dos meus pecados, foi exactamente nessa vertente que assentou o meu percurso e por isso mesmo, porque nunca gostei de ficar para atrás, servia-me da minha imaginação para evitar situações desagradáveis. Homem prevenido, .....
Porque para ser malandro também tem que se ter categoria, uma vez, deu-me na cabeça para fazer um apanhado de todas as formulas e os valores objectivos das diversas fases do fabrico de pasta de celulose branqueada, inclusive da fábrica dos produtos químicos de apoio ao processo, e condensa-los numa folha de papel A4, dobrando-a de modo a caber dentro do meu bloco de apontamentos que sempre me acompanhava para tomar as minhas notas.
Foi um trabalho interessantíssimo que me obrigou a consultar novamente todos os manuais técnicos de todas as instalações.
Numa célebre reunião de produção, porque haviam dúvidas, estalou uma teima entre engenheiros sobre determinado valor de residual de dióxido de cloro numa determinada torre e eu, que não acredito em bruxas, mas que as há, há, comecei logo a congeminar: estes gajos não se entendem e esta m.... ainda vai sobrar para mim, e o pior é que também não tinha a certeza do raio do valor.
E assim foi, o Director de produção, porque o outro não se rendia, para acabar com aquele diálogo de surdos, disparou: Estou a ver que não chegamos a conclusão nenhuma e está aqui a pessoas certa e de certeza que sabe: Oh Loureiro, você que supervisiona essa área e está aí caladinho, qual é efectivamente o valor?
Escapei por pouco, fez-se silêncio e 10 pares de olhos convergiram sobre mim e, na altura em que estava a fazer um esforço para me lembrar do número, lembrei-me do tal papel que me levou meses a fazer e, calmamente, fui ao bolso e com um certo gozo, descarreguei todos os valores objectivos das 5 torres, nenhum deles tinha razão, estavam confundidos, mas ambos andavam perto.
O meu Chefe de Secção, também surpreendido disparou: Quem fala assim, não é gago.
A reunião continuou e a verdade é que tive que tirar mais de 50 fotocópias, porque todo os operadores do processo queriam uma.
Isto tudo porquê???
Eu, e certamente muitos outros, queremos lá saber se o episódio do baptismo de fogo do nosso camarada foi no dia X ou no Y, se foi em Bissau ou Bissalanca, aconteceu e pronto, ficou baptizado, a esta distância temporal que importância tem esse pormenor da data??? se foi uma coisa muito relevante há-de estar registado em qualquer lado e quem estiver interessado que vá à procura, esgravate, para mim está conforme.
Um abração PA.

VB: Meu querido Companheiro, Loureiro.
Como sabes a liberdade de expressão neste espaço é um direito adquirido por todos nós, desde que as regras da educação e civismo sejam cumpridas.
Cada um de nós tem as suas recordações, os seus sentimentos que nós temos que respeitar tal como exigimos que respeitem os nossos.
Aceito que à determinados voos que pouco nos dizem, certamente que alguns dos nossos pouco ou nada interessam a outros, é assim a vida, temos que saber ser tolerantes.
Um abraço para ti Loureiro.