segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Voo 1964 UM HOMEM TAMBEM CHORA.




Fabricio Marcelino
Esp.MMA
Leiria

Como eu te compreendo Nuno Almeida! O relato
que fazes no VOO Nº1962, fez-me recuar muitos anos e relembrar coisas antigas e horríveis.Como é do conhecimento de todos,eu era da linha da frente dos F-86F.

Por tal motivo, eu não ia fazer evacuações. Sempre reconheci os perigos de vida a que eram expostos os colegas que o faziam. Refiro-me a todos, sem excepção,pilotos,mecânicos e enfermeiras.Embora não fosse fazer evacuações,pelos motivos apontados,não me inibiu, de ter que agarrar por variadas vezes, em feridos graves e esventrados.Passaram 48 anos, mas dos muitos que me passaram pelas mãos, recordo ainda hoje o dia 8 de Dezembro de 1962.Era o dia da mãe nessa altura.Tanto os pilotos,como mecânicos éramos poucos e os ataques constantes. Os mesmos tinham-se intensificado uns dias antes,os aviões só estavam parados o tempo suficiente para as inspecções,abastecer e municiar. Nós andávamos todos derretidos, com falta de descanso e, passávamos de uma escala para outra, sem interrupção.Recordo, que nesse dia tinha deixado o alerta de 24 horas,em que tivemos várias saídas durante a noite e, por tal motivo, também não dormimos,de novo.Às 9 horas entrei de mecânico de dia à Base.O Broussard, andava constantemente a sair, para fazer evacuações.

Dos muitos feridos que chegavam e, que recebi,recordo um oficial da Marinha, que tinha uma perna decepada um pouco abaixo do joelho,apenas presa por um tendão na parte traseira.Mas aquele que recordo com muita mágoa, é a de um soldado do exército, que vinha esventrado, com as vísceras de fora, com um colega a segurar.Para se poder tirar do Broussard, e colocar na ambulância, tive que agarrar também as mesmas, para as colocar no abdómen.Recordo igualmente, os gritos de horror daquele homem,que não tinha ainda tomado qualquer medicamento, a gritar pela mãe e a pedir-nos por Deus que o salvássemos. Logo que a ambulância foi para o hospital eu fechei-me dentro de um F-86F e chorei como uma criança,porque o horror vivido foi tal, que era impossível aguentar sem chorar.E volto a repetir,para mais era o dia da mãe!
Soube no dia seguinte que aquele homem tinha falecido.Mais um bravo militar que deu a vida pela Pátria.A mesma pátria que o esqueceu até hoje, como a tantos milhares de militares!
Termino porque as lágrimas já brotaram.Um abraço a todos