segunda-feira, 23 de março de 2009

VOO 874 OS TOMATES DO CAPELÃO ...E OUTRAS FRUTAS.





Miguel Pessoa
Cor. Pilav. Refº. Guiné
Lisboa

Caro Victor
Como sabes, foi a nossa capacidade de manter o sentido de humor em situações adversas que muitas vezes nos permitiu ultrapassar os obstáculos e sobreviver sãos de espírito. Por isso aqui vai uma historiazinha simples, para amenizar o peso do "esforço de guerra".
Um abraço. Miguel Pessoa

OS TOMATES DO CAPELÃO... E OUTRAS FRUTAS

No meu tempo na Guiné, os tomates do capelão da BA12 eram muito cobiçados, muito por culpa das nossas enfermeiras paraquedistas que, sempre que podiam, faziam uma colheita na horta que o padre A... mantinha junto à igreja da Base.
Era generalizada a opinião, entre quem deles se servia, de que os tomates do nosso capelão, embora pequenos, eram sumarentos e saborosos e enriqueciam qualquer salada. E sabe-se o gosto que o pessoal tinha por tudo o que lhe lembrasse a metrópole. E era vê-los a "deitar abaixo" uma saladinha feita com tomates fresquinhos, acabadinhos de apanhar...
É claro que o padre A... calculava perfeitamente quem eram os malandros (neste caso as malandras...) que lhe andavam a "derreter" a fruta, mas pactuava simpaticamente com a situação, dado ser por uma boa causa.
Mas não se ficava pelos tomates a razia que as enfermeiras paraquedistas faziam na fruta da base.



Na foto a Giselda,fazendo a "poda"ao limoeiro do Capelão na Base Aérea 12,Bissalanca.
Foto do Miguel Pessoa(Direitos Reservados)

Para além da fruta que iam comprando ao responsável pela horta da Base, lá iam marchando de vez em quando uns limões, uma papaia, que o pessoal a alimentar era muito e de bom apetite.
Nem o cajueiro do Comandante escapava (do Comandante é um modo de dizer, que estava junto ao comando da Base), sendo que, um dia, havendo uma escada à mão, duas enfermeiras (de que não vou referir os nomes...) resolveram atacar o dito cujo. Estavam elas neste preparo, penduradas nos ramos altos, quando passa o Comandante da Base, com o seu séquito. O facto é que o Comandante não reconheceu "as intrusas", pois se viam apenas as calças do camuflado, pelo que invectivou energicamente as duas "delinquentes", julgando que eram soldados da Polícia Aérea; e as duas no topo da árvore também não reconheceram a voz do Comandante, pelo que reagiram verbalmente em termos que não vou reproduzir aqui...
Tendo as partes procedido à identificação mútua, o incidente acabou por ficar sanado, pese embora o Comandante tenha prosseguido a sua viagem resmungado contra a lata daquele pessoal, sublinhado por um sorriso complacente dos militares que o acompanhavam.

Miguel Pessoa



JC: Miguel Pessoa, amenizar é preciso, é fundamental, e o humor no tempo e com a medida certos é indispensável na nossa vida. Obrigado pelo excelente texto de fino humor e de tranquilizante leitura.

Por falar em tomates, havia aquele que durante a corrida de cavalos, contrariamente a todos os restantes espectadores, se mantinha impávido e sereno, o que naturalmente causava grande espanto e não menos admiração. O problema era no final, quando, mantendo a sua desconcertante tranquilidade, tirava as mãos dos bolsos…”fresquinhos, acabadinhos de apanhar…”.

Desculpa o abuso.
Um abraço