terça-feira, 24 de junho de 2008

RÁDIO FAROL.


281-Luís Santos
Ex-Enfº FAP TETE
Agualva-Cacém

Amigo Victor Barata: Estou de volta, hoje para lembrar a memória dos Zés que tombaram ao serviço da Pátria. AB7 TETE TAMBÉM CHOROU OS ZÉS QUE TOMBARAM AO SEU SERVIÇO E DA PÁTRIA RADIO FAROL : 1970/1971 Todos os dias pelas 6 h da manhã, o mecânico electricista de dia deslocava-se ás instalações do Radio Farol a cerca de 16 km do AB7, afim de fazer a manutenção do gerador que era movido a gasoil e proceder ao seu reabastecimento, pó-lo em marcha para assim os voos serem efectuados com precisão e segurança.Eu tive a oportunidade de lá ir algumas vezes na hora das minhas folgas, pela tardinha, fazendo companhia aos meus colegas electricistas, entre eles o Manuel António Pedro.Apercebi-me que era demasiado longe, estar um equipamento com a importância que tinha a operação de aeronaves, mas quem era eu para poder julgar assim. Isto era a minha opinião apenas.Já se falava na sua transferência para as imediações da base, perto das pistas, mas até lá foi um lapso de tempo muito grande.Um dia de manhã pela 6h da manhã o electricista de dia Manuel Pedro, foi mais o condutor auto de nome Peneda, com o jipão, para a rotina de sempre, ligar o Radio Farol.O trajecto é bastante longo e sinuoso, e estreito, é mais uma picada, e quase perto do Radio farol, temos de atravessar um rio de uma margem para a outra, cujo leito é seco, só leva água no tempo das chuvas, visto ser um afluente do Revugué que passa junto do topo sul das pistas.Quando chegaram, as instalações, que estavam circundadas por arame farpado e um portão, verificaram que este, estava rebentado e as instalações, metralhadas e incendiadas.O Manuel Pedro, deu ordem de imediato para o condutor, fazer inversão de marcha, e apresentaram-se ao Oficial de dia contando a ocorrência, este de imediato, perguntou-lhe: E você não entrou dentro das instalações porquê? O Pedro respondeu: Meu Alferes eu não entrei porque não sei se o campo adjacente e edifício, estão armadilhados.O oficial de dia disse-lhe: pois fique sabendo que lhe vou dar uma porrada.O Pedro disse-lhe: Pois de-as toda que quiser, entre lá o sr, eu não entro lá e vou pedir uma audiência ao nosso comandante a contar o que se passou.à data quem era o Comandante do AB7, era o Ten. Cor. Victor João Lopes de Brito, uma pessoa de bom trato, de boa maneiras, humano e que estimava todos quanto viviam na Base, assim como também era estimado por todos nós.Após terem falado com o Comandante, este disse logo que não fizesse caso das palavras do Oficial de dia.Requisitou um Heli, e foi ao local par verificar a extensão dos estragos.Ao regressar, á Base, ordenou que se formasse uma coluna militar, composta por mecânicos electricistas e pessoal PA para cobertura da mesma, e colocou um T6, a fazer cobertura da área para onde se deslocavam.No Jeepão da frente viajavam: O Condutor auto Peneda, o Tente TMME Luis Filipe Lemos Ferreira, irmão do Gen.Lemos Ferreira, o Capitão SG Arrobe, e várias viaturas na retaguarda.Ao atravessar as margens do Rio seco, o Capitão Arrobe, desconfiado de algo no leito arenoso, saiu, e colocou-se a uns metros á frente do Jeep, e começou a mexer com o pé nas areias soltas, e mandou avançar o Jeep, desviando um pouco para a esquerda, porem, assim que a roda esquerda, avançou, deu-se uma explosão, por baixo do Jeep. O Luís Filipe Lemos Ferreira, e o Capitão Arrobe, tiveram morte imediata. O Peneda, foi projectado a muitos metros de distância, houve vários feridos, devido aos estilhaços.Os ocupantes das viaturas da retaguarda, saltaram para as bermas, em posição de fogo.O t6, actuou prontamente, metralhando as margens adjacentes, porque estava uma emboscada preparada após o rebentamento da mina, comunicando em seguida para o AB7, pedindo reforços, o que prontamente, foi, era uma correria na base, helis, descolaram logo de seguida, para prestar os primeiros socorros, e evacuar o pessoal, que estava ferido.Eu estava de enfermeiro de dia á base e dei assistência aos vários elementos que foram rapidamente evacuados, entre eles o Peneda, que estava em estado de choque, não dizia coisa com coisa, deambulava de um lado para o outro á procura do nada e de tudo, tive que o acalmar, fazer os primeiros socorros, limpeza de escoriações, pois vinha preto como o carvão, o que após assistência, foram todos evacuados para o hospital de TETE, para posteriores exames médicos.E tudo isto, porque anteriormente, alguém se lembrou de colocar uma bandeira Portuguesa no mastro lá existente. Para quê, se até á data não havia lá nenhuma bandeira?Tudo estava na paz do Senhor e nada tinha acontecido até ali.Perante este factos, curvo-me mais uma vez em homenagem da memória destes dois elementos que nos eram muito queridos.Nesse dia toda a unidade, ficou em estado de choque, uns choravam para um lado outros para outro, deambulando de um lado para o outro de olhar fixo para nada e para tudo, para o infinito, perguntando, isto não nos está a acontecer. Eu não escapei á regra, não ia chorar na enfermaria, junto dos que estavam mesmo a precisar de apoio, mas chegou a uma altura, depois de todos terem saído, encostei-me a um canto, e chorei, não tenho vergonha de o dizer, foi a única maneira de aliviar a tensão que tinha dentro de mim.

Um abraço.Saudações Aeronáuticas.

Luis Santos