quinta-feira, 19 de junho de 2008

AB 7 TETE.




270-Luís Santos
Ex-Enfermº Tete
Cacém

Amigo Victor Manuel:


Junto envio Mensagem que falta. Em 29 de Abril de 1969, cheguei a Luanda, onde permaneci, 1 dia, e deu tempo para ir a casa visitar meus pais, onde residia antes de me ter alistado como voluntário para a FAP.Desembarquei em Lourenço Marques a 01 Maio de 1969.
Permaneci em Lourenço Marques, cerca de 2 a 3 dias, á espera de colocação, o que aconteceu ao fim desse tempo, e fui colocado no AB7 TETE.
Numa das fotos, estou eu e mais um colega, que seu nome não me recordo, foi para Nova-Freixo. Ainda trocamos correspondência algum tempo, mas depois, perdi-lhe o rasto.
Cheguei ao AB7 TETE a 4 de maio de 1969.Confesso que a paisagem que eu vi, era desoladora, toda ela com um aspecto muito seco, a Base resumia-se ao Hangar, deposito d água, torre de controle, edifício do comando, onde estavam os serviços de Meteorologia, Serviço Geral de secretaria, Comunicações, e Enfermaria , um pequeno espaço, que mal cabia a marquesa de observações clínicas.
A cozinha, era de campanha, e os refeitórios, eram três palhotas. A Base não tinha arame farpado a protege-la de qualquer intrusão do exterior.
As Camaratas, eram no Hangar, Havia uns laterais em profundidade, de um lado e do outro e ai tínhamos as nossas camas em forma de beliches, onde dormíamos, mas era muito quente, porque o sol batia na chapa de zinco, e repassava para as camaratas, quando nos íamos deitar, as camas, estavam a escaldar.
Andei um dia com as ideias ás avessas, porquê eu naquele pesadelo? Mas os que lá estavam, também estavam naquele pesadelo.
Um colega meu de camarata, O Artur Emílio Troca, ao ver-me tão desanimado, disse-me: Ó companheiro você parece-me que não está bem, mas não fique triste, tudo vai correr bem, só o que custa um bocadinho é o calor, mas isso com umas cervejonas, vai ao lugar.
Convido-o para logo perto da noite, a irmos ao Carraço, comermos um frango á Cafrial e bebermos uns tricofites, e você fica fino.
Assim foi, lá fui com o Artur, e um colega dele que me apresentou: O Serafim Cancela da Silva, excelentes colegas que me ajudaram a superar, a minha tristeza e a aprender a gostar da Base em que eu teria de estar, pelo menos 2 anos de comissão.
Em 1969/70, a Base começou a crescer, fizeram-se as primeiras casernas, e refeitórios, um jardim, com lago, que tinha como animais de adorno, Crocodilos, uma piscina, onde nas horas de lazer, ia dar uns mergulhos para me refrescar. Construiu-se a Capela e por ultimo as instalações dos serviços de saúde, com bastantes espaços, com sala de espera, consultórios médicos, enfermarias, para possíveis baixas, sala de tratamentos, e sala de RX.
Quando deixei o AB7 em 1972, confesso, estava uma Base digna de ser vista, muito boliçiosa, por lá passavam, em transito, para Nacala, Nova-Freixo, Lago Niassa etc. Paraquedistas, Comandos, Fuzileiros Navais e o Exercito, a ser transferido para vários sítios, não contando com os Voos da DETA, que fazia escala no AB7, para deixar os civis com destino a TETE civil, e ao mesmo tempo fazer os plenos, para continuar o Voo, para outros sítios.
Gostei e amei esta base, que foi a minha casa durante 3 anos, fiz amigos, que nunca os esquecerei, para mim eram todos irmãos. Era uma das mais operacionais a Norte de Moçambique.
Parti com saudade de algum dia a poder visitar de novo, mas em outra versão.
A 6 de Junho de 1972, fui transferido para a 2ª região Aérea, fui colocado na BA9 Luanda, onde residia com meus pais e irmãos, e ai permaneci até passar á situação de disponibilidade em 01 Fevereiro 1974.
AB7 - Agora vejo que estás triste, vazia e esventrada, só com paredes e sem telhados para abrigares quem quer que seja. Perdeste o teu Hangar, que tantas historias teria para nos contar, o teu depósito de água que generosamente, nos matava a sede, e nos refrescava A torre de controle, que tantas conversas teve entre pilotos e pessoal da torre.
Já não ouves o roncar os motores dos Tecos Tecos ( T6), que ás 6 da manhã, faziam ponto fixo, prontos para entrar em acção. Já não vès os Zés Especialistas a correrem, para os seus postos de trabalho, para mais um dia, as suas risadas, nos bares, bebendo umas fresquinhas, jogando ás cartas, ou falando entre si.
A tua piscina que generosamente nos banhava, para nos refrescarmos, está vazia, sem vida humana, para acariciar a tua água.
Pois é Os homens da tua terra, e os homens de Portugal, fizeram as pazes, não fazia sentido. Os teus filhos que abrigaste, protegeste, regressaram a Portugal, para junto das suas famílias, mas não te abandonaram, deixaram-te operacional, linda e pronta a receber os filhos da terra.
Mas não te compreenderam, e nem quiseram escutar as historias que tinhas para lhes contar a eles e aos seus netos, destruíram-te.
Não fiques triste todos os Zés Especialistas que por ai passaram, amam-te e gostam de ti.
Um dia destes , vou ai, para te tocar nas tuas paredes que ainda restam e dizer-te que sempre te amei como base e gostei de ti, ensinaste-me a se homem, e a ser autónomo, a enfrentar a vida tal qual ela é e a amar o meu semelhante e a ajuda-lo.
Até um dia ou até á eternidade.

Adeus AB7, um abraço de todos nós.

Luís Santos Ex-1º Cabo Enfermeiro (AB7 TETE)




VB. Que bela retrospectiva nos dás do AB 7 Tete,Luís.
A emoção que deixas transparecer nas tuas palavras chegam a ser contagiantes a quem as lê.

Pedia a todos os Companheiros que estiveram em Tete, que fizessem uma analise a este artigo e se pronunciassem sobre o mesmo,pois embora nunca tenha estado neste local,esta descrição é contagiante.